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ANTÔNIO ERMÍRIO DE MORAES
Por uma campanha educativa
Na última quinta-feira, os quatro presidenciáveis compareceram à Confederação Nacional da Indústria, em Brasília, para dizer o que
pensam a respeito das principais
preocupações do setor produtivo brasileiro.
Na verdade, essas preocupações têm
enormes desdobramentos sociais. O
Brasil precisa gerar empregos e renda
para seus trabalhadores e, ao mesmo
tempo, modernizar os seus métodos
de produzir e de vender para, com isso, competir com sucesso em uma
economia que se globaliza cada vez
mais.
Naquele evento, os pré-candidatos
tocaram uma melodia em uníssono.
Todos são a favor de todas as reformas. Falou-se da necessidade de baixar os juros, de melhorar a infra-estrutura, de estimular as exportações,
de ampliar o mercado interno, de simplificar a burocracia e de tantas outras
medidas que, se forem tomadas em
conjunto, colocarão o Brasil na posição que ele merece.
Lendo o resumo do debate, lembrei-me de uma conversa que tive em 1994
com Roger Douglas, que foi ministro
da Fazenda da Nova Zelândia. Naquela época, ele estava organizando um
novo partido em defesa dos consumidores e dos contribuintes -que tomou corpo em 1996.
Hoje, esse partido detém nove cadeiras no Parlamento. O seu objetivo básico é o de controlar o populismo dos
candidatos na época das eleições. Por
via de um consenso, estabeleceu-se
uma regra para as campanhas eleitorais segundo a qual, toda vez que um
candidato diz na televisão, por exemplo, que vai gerar 200 mil empregos
sem dizer "como", os demais candidatos adquirem o direito de ir à mesma
TV e usar o tempo do primeiro para
indagar de que maneira será atingido
aquele objetivo.
Ou seja, quem promete tem de explicar ao povo, tintim por tintim, como sua promessa será concretizada.
Com o tempo, os eleitores vão-se educando e exigindo dos candidatos uma
explicação para distinguir falsas promessas de projetos realizáveis.
Esse mecanismo cria um autocontrole do populismo. O sistema tende a
levar os candidatos a evitar promessas
absurdas. E também promessas vagas.
A taxa de demagogia vai declinando
na mesma medida em que a educação
do eleitor vai subindo.
Os candidatos também se educam e
ficam cada vez mais cautelosos. Ninguém quer perder seu tempo de TV
no dia seguinte devido a uma promessa impensada no dia anterior.
Como a campanha aqui no Brasil
ainda não começou, que tal se, mesmo
sem lei, os candidatos fizessem um
pacto de seguir essa regra? Assim, toda
vez que um candidato dissesse "vou
reduzir os juros", ele teria de explicar
ao povo quais as medidas que tomaria
para chegar a esse objetivo. O seu adversário poderia criticá-las, mas, em
seu lugar, teria de propor outras. E,
com isso, formar-se-ia uma bola-de-neve de conhecimentos para o povo
sair da jornada eleitoral mais bem informado do que entrou. Seria um belo
esforço em prol de uma campanha
mais educativa.
Antônio Ermírio de Moraes escreve aos domingos nesta coluna.
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