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ANTÔNIO ERMÍRIO DE MORAES
Analfabetismo e a área qualitativa
Se formos julgar o problema do
analfabetismo em termos quantitativos e em perspectiva histórica, não
há dúvida de que a situação no Brasil
melhorou muito.
Os maiores ganhos foram obtidos
no período mais recente. Começamos
o século 20 com cerca de 65% de analfabetos -uma tragédia-, tendo baixado para 51% em 1950 e apresentado
reduções mais drásticas só a partir de
1975 -para chegarmos ao ano 2000
com 13% de analfabetos. Hoje são
11%.
Mas, quando se adentra a área qualitativa, o quadro é outro. Pesquisa realizada pelo Ibope em 2004 e publicada
nesta semana -em pleno século 21-
informa que a taxa de "analfabetismo
funcional" é de 77%! Apenas 23% dos
brasileiros que têm entre 15 e 64 anos
conseguem resolver problemas numéricos que exigem cálculos matemáticos e têm domínio da leitura de gráficos, mapas e tabelas.
O problema tem sido percebido em
outras esferas. Testes realizados por
alguns Tribunais Regionais Eleitorais
entre candidatos a vereadores e prefeitos mostraram que uma parcela expressiva não entende o que lê e escreve
com dificuldade. São os que se propõem a fazer leis e a executar programas.
É um quadro alarmante. Afinal, vivemos na chamada "sociedade do conhecimento", na qual os neurônios
são muito mais importantes do que os
músculos. Para poder trabalhar, exercer a cidadania e subir na vida, os seres
humanos precisam dominar muito
bem a linguagem e a matemática
-para dizer o menos-, pois o mercado de trabalho e a sociedade em geral estão se tornando cada vez mais
exigentes.
Vejam alguns dados adicionais, verdadeiramente dantescos: 46% dos
brasileiros só conseguem resolver
problemas que envolvam apenas uma
operação aritmética. Se tiverem de encadear mais de um cálculo, eles se
complicam e não saem do lugar.
Há coisas piores. Cerca de 29% dos
maiores de 15 anos são incapazes de
somar e de subtrair, e 2% não conseguem sequer identificar os números!
Observem bem: a pesquisa estudou
pessoas que fizeram dois, três, quatro
e até mais anos de escola. Não se trata
de um estudo dos analfabetos, mas,
sim, de uma análise dos 89% que são
considerados alfabetizados.
O resultado é dramático e precisa ser
revertido, pois nenhum país consegue
crescer 5% ou 6% ao ano por muito
tempo com uma população tão mal
preparada.
Mais do que nunca, o esforço agora
deve ser concentrado na área qualitativa.
Antônio Ermírio de Moraes escreve aos domingos nesta coluna.
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