|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
CARLOS HEITOR CONY
Regra de três
RIO DE JANEIRO - Recente pesquisa divulgada na semana que passou revela que o brasileiro não é amante
das matemáticas. Desprezando detalhes: quase 50% da nossa população
ficou nas quatro operações básicas,
somar, diminuir, multiplicar e dividir. Que, aliás, não chegam a ser matemática, mas aritmética.
Pessoalmente, não tenho elementos
para confirmar ou desmentir a pesquisa, mas fiquei preocupado, a começar por mim próprio, que estou
exatamente nesses 50% que mal e
porcamente contam com os dedos e
desconfiam dessas calculadoras capazes de extrair raízes quadradas
-besta negra que me reprovou em
diversos exames que fui obrigado a
fazer por aí.
Já lembrei, em crônica antiga, a solução que Hitler pretendia dar para o
domínio absoluto da raça ariana. É
evidente que o primeiro passo seria o
domínio militar, o exercício da força
bruta. Mas depois? Conquistado o
mundo, como poderiam 50 milhões
ou 60 milhões de arianos dominar os
6 bilhões ou 7 bilhões de eslavos, saxônicos, latinos, asiáticos, o resto da
humanidade, enfim?
Manter exércitos ou milícias policiais para garantir a "pax" ariana seria prolongar a guerra infinitamente.
Mas, impedindo os não-arianos de
estudar matemática, em duas gerações a humanidade seria escrava dos
arianos, que teriam acesso aos logaritmos e raízes quadradas.
Nós, latinos, eslavos, saxônicos,
orientais etc., saberíamos somar, diminuir, multiplicar e dividir, com isso formaríamos a humanidade de segunda classe, que exerceria, além dos
ofícios braçais, a multidão de empregados à disposição dos gênios, que,
além da força militar, teriam o poder
das pesquisas, dos laboratórios, dos
avanços tecnológicos em geral.
Li isso em "Mein Kampf", Hitler já
estava derrotado. Contudo a solução
proposta por ele ficou por aí, no ar,
alguém ainda pode pegá-la. Mesmo
assim, recuso-me a aprender uma
simples regra de três.
O cronista estará fora desta coluna
durante uma semana.
Texto Anterior: Brasília - Eliane Cantanhêde: Todos contra um Próximo Texto: Antônio Ermírio de Moraes: Analfabetismo e a área qualitativa Índice
|