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ELIANE CANTANHÊDE
Novidade, mas nem tanto
BRASÍLIA - Um "must" do chefe da Casa Civil, José Dirceu, é justificar
que os ministérios estão devagar,
quase parando, porque nunca houve
uma troca tão significativa de ministros quanto agora. É meia verdade.
Do regime militar para o governo
que seria de Tancredo e acabou sendo de Sarney, a troca foi marcante.
Para simplificar, "anfíbios" (políticos
de origem militar), como Jarbas Passarinho e Mário Andreazza, foram
trocados por civis. A rotatividade foi
tanta que até um arquiinimigo dos
Sarney no Maranhão, Renato Archer, virou ministro.
De Sarney para Collor, as novidades foram de bom tamanho, a começar pela até então inexpressiva (e depois famosa) Zélia Cardoso de Mello
num superministério da Economia e
pelo ainda mais inexpressivo Pedro
Paulo Leoni Ramos na delicada área
de informações. Quer mais?
De Collor para Itamar, mais guinadas, com os tucanos entrando em
campo sob o comando de FHC e o
surgimento do grupo de Henrique
Hargreaves, com o sugestivo apelido
de "República do pão de queijo".
De Itamar para FHC, os tucanos da
área política, como José Serra, ou da
acadêmica, como Pedro Malan, concluíram uma ocupação de oito anos
da Esplanada dos Ministérios.
Nenhuma dessas mudanças foi desprezível e, pulando de Figueiredo para FHC, o salto foi enorme.
As trocas de FHC para Lula também são visíveis e, no conjunto, pode-se arriscar uma comparação. A nova
equipe é mais ideológica e sonhadora, além de mais inexperiente e com
menos densidade acadêmica. Mas
nenhuma mudança tão profunda como Dirceu quer fazer crer.
É mais fácil, simples e direto dizer
que os ministros estão apanhando
mesmo. Da falta de recursos, é verdade, mas também do mau desenho administrativo, com ministérios sobrando e ações faltando, e do desconhecimento da máquina federal.
Assumir leva tempo, e este ministério é apenas o primeiro. Vai haver intervenção branca e, depois, fatalmente, troca de nomes e cadeiras. É apenas questão de tempo.
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