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CLÓVIS ROSSI
Lendas modernas
WASHINGTON- Lenda número 1 - A rua árabe levantar-se-ia encolerizada ante a invasão do Iraque pelos Estados Unidos e sua ira levaria ao
chão os regimes autocráticos que, ao
contrário do de Saddam, são apoiados pelos EUA.
A rua árabe mexeu-se, é verdade,
mas não mais do que as ruas de Londres, de Madri, de Paris e até de Nova
York. Houve manifestações contra a
guerra, mas não foram mais numerosas do que as registradas em países
que participam da invasão.
A lenda da rua árabe, aliás, já surgira na Guerra do Golfo (1991). Não
aconteceu nada, mas ainda assim
muita gente boa embarcou de novo
na história.
O fato é que não parece haver no
mundo árabe forças organizadas que
levantem a rua e ponham os governos contra a parede. Está-se vendo,
aliás, no caso iraquiano, que as ruas
de Bagdá estão mais para Rio de Janeiro do que para Berlim na época
da queda do Muro.
Lenda número 2 - A invasão do Iraque levaria à criação de cem Bin Ladens, na versão, por exemplo, do presidente egípcio Hosni Mubarak.
Nesse caso, a aferição da lenda é
bem mais complicada, porque entidades terroristas não põem anúncio
em jornal comunicando seu nascimento, endereço, CIC e RG.
Mas o fato é que o melhor momento
para praticar atos terroristas teria sido durante os 21 dias em que o regime de Saddam Hussein ainda resistiu, embora mal e porcamente. O que
houve foram apenas ataques suicidas, que cabem, nesse caso, mais na
lista de atos de guerra do que de terrorismo -como os camicases japoneses da Segunda Guerra Mundial
(para que não me venham com mais
uma lenda, a de que os árabes e só os
árabes são fanáticos).
É até curioso que, ao contrário dos
terroristas convencionais, a tal de Al
Qaeda não assine seus atos.
É igualmente curioso que, no mundo do paroxismo da informação, sobrevivam lendas, às vezes com mais
força que a própria informação.
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