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QUEM SERÁ O PRÓXIMO?
A contundente vitória militar
dos EUA sobre o Iraque lança o
mundo diante de novas perspectivas
na geopolítica. O risco maior é o de
os "falcões" do governo de George
W. Bush gostarem do resultado da
aventura e tentarem expandi-la.
Nesse sentido, são inquietantes as
ameaças veladas que autoridades
norte-americanas vêm fazendo a outros países com os quais Washington mantém desentendimentos. Na
quarta-feira, depois de encontrar-se
com representantes do Vaticano, em
Roma, o subsecretário de Estado para Controle de Armas e Segurança
Internacional, John Bolton, citou nominalmente a Síria e a Coréia do
Norte e disse que esses países deveriam aprender com "as lições do Iraque" e desistir de seus programas de
"armas de destruição em massa".
Armamento que, registre-se, ainda
não foi encontrado no Iraque.
Declarações de teor semelhante deram o vice-presidente, Dick Cheney,
e o subsecretário de Defesa, Paul
Wolfowitz. É verdade que Cheney,
Bolton e Wolfowitz representam a
ala mais à direita do Partido Republicano, os chamados "falcões", mas,
infelizmente, é essa gente que vem
dando as cartas na administração
Bush, e sua influência tende a crescer
com o sucesso militar no Iraque.
O pior é que, pelo momento, as teses intervencionistas contam com o
apoio da população. Pesquisas indicavam que 50% dos norte-americanos eram favoráveis a uma ação militar contra o Irã caso o país continuasse procurando "desenvolver armas
nucleares" e 42% apoiariam o uso da
força contra a Síria se esta estivesse
ajudando Saddam Hussein.
A Doutrina Bush de fato preconiza
ataques preventivos e unilaterais
contra países ou grupos que constituam uma ameaça aos EUA ou que
possam vir a sê-lo. Uma administração de bom senso, contudo, evitaria
ao máximo o recurso às armas. Na
verdade, depois do Iraque, a simples
ameaça de ataques já tende a funcionar como força dissuasiva. Só que o
bom senso não tem sido a marca da
gestão Bush. Tampouco caracteriza
o comportamento de ditadores como Kim Jong-il, da Coréia do Norte,
ou terroristas como Osama bin Laden. Não se pode descartar, pois, a
possibilidade de ações imprudentes.
Além do Iraque de Saddam Hussein, faziam parte do "eixo do mal" o
Irã e a Coréia do Norte. Nas últimas
semanas, a Síria vem galgando degraus na escala dos "grandes vilões"
de George W. Bush. Sabe-se também que Washington está profundamente descontente com a Arábia
Saudita. Quem será o próximo?
Para além de o principal pretexto
para a guerra -a existência de armas
de destruição em massa- ter sido
inexplicavelmente esquecido por
Bush, a noção de ataque preventivo
contra ameaças futuras, e não contra
ataques iminentes, é inadmissível. Se
ela fosse um "direito", como querem
os ideólogos da Casa Branca, e todos
os países a aplicassem, o mundo viveria um estado de guerra permanente, incompatível com a vida e
com o progresso das nações.
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