São Paulo, domingo, 13 de junho de 2004

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MELHORIA EXTERNA

A retomada do crescimento mundial, sob a liderança da economia americana e chinesa, juntamente com a elevação dos preços das commodities, facilitou o processo de ajuste das contas externas dos países emergentes. O conjunto desses países vem apresentando superávit em transações correntes desde 1999, impulsionados pelos asiáticos e exportadores de petróleo. Em 2003, o saldo positivo foi estimado em US$ 207 bilhões pelo FMI. Isso vem permitindo a acumulação de reservas internacionais, que alcançaram, entre os emergentes, US$ 1,37 trilhão em dezembro de 2003. Estratégias agressivas de acumulação de reservas foram desenvolvidas especialmente na Ásia a fim de evitar a volatilidade das taxas de câmbio.
Houve ainda um relativo avanço no acesso ao crédito externo pelo grupo dos países emergentes. Alguns foram favorecidos por melhores notas fornecidas pelas agências de classificação de risco de crédito, que os elevaram à categoria de "grau de investimento", como a Rússia e o México. Outros aproveitaram a liqüidez internacional para modificar os custos e os prazos de suas dívidas externas. O México, por exemplo, promoveu a troca dos títulos Brady por outros com prazos mais longos.
Esses fatores parecem afastar, pelo menos por ora, a hipótese de uma crise mais grave na periferia do sistema financeiro global. Isso, obviamente, não implica a ausência de riscos -como os de uma eventual explosão dos preços do petróleo.
Quanto ao Brasil, o superávit na conta corrente da economia deverá repetir em 2004 o bom desempenho do ano passado, permanecendo em torno de US$ 4 bilhões. A desvalorização da taxa de câmbio, associada à expansão mundial, à abertura de novos mercados e aos preços das commodities, contribuiu para uma notável expansão das exportações. Em 1999, as vendas para o exterior representavam 8,9% do PIB. Hoje, estão em torno de 15,3%. Já as importações mantiveram-se estagnadas, passando de 9,2% do PIB para 9,9%.
Com o aumento das exportações, os indicadores de endividamento externo da economia brasileira melhoraram. A relação dívida externa líqüida/exportações caiu de 3,6 em 1999 para 1,8, considerando que as exportações seriam de US$ 80 bilhões e a dívida seria de US$ 144,6 bilhões no fim de 2004. A relação dívida externa líquida/PIB, que teve seu pico em 35,9% em 2002, diminuiu para 26%. Os gastos com juros da dívida externa, que absorviam 36,4% das exportações em 1999, caíram para 19,9%.
A despeito desse considerável ajuste das contas externas, ainda é preciso criar melhores condições para diminuir o risco do país e, portanto, para eliminar a vulnerabilidade da economia a uma reversão de fluxos de capitais. O país ainda permanece classificado na categoria de "investimento especulativo".
Em 2004, o Brasil precisará renovar pelo menos US$ 53,6 bilhões em dívidas de curto e longo prazo. Como o ciclo de liqüidez será, em algum momento, sucedido por um período de escassez de recursos, é preciso aprofundar o ajuste externo, o que exige esforços para melhorar a pauta das exportações, consolidar o superávit em conta corrente e ampliar as reservas no Banco Central, atualmente, em apenas US$ 22 bilhões.



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