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VALDO CRUZ
Brasas e cinzas
BRASÍLIA - Lula perdeu uma boa oportunidade de promover as pazes
entre José Dirceu e Aldo Rebelo. Bastaria obrigar seu chefe da Casa Civil
a participar de seu arraial do Torto.
Ao final da festa junina, o presidente pediria aos dois que protagonizassem a cena dos compadres. Dar-se-iam as mãos, um de cada lado da fogueira já em brasas, e saltariam sobre
ela em sentido cruzado, num ato de
confiança e amizade.
Só que Dirceu preferiu refugiar-se
em Buenos Aires. Pensando bem, talvez tenha sido melhor assim. O clima
entre os dois anda tão ruim nos últimos dias que provavelmente um deles cairia sobre as brasas.
O fato é que o PT anda brincando
com fogo. Às vésperas da batalha do
salário mínimo, decide torpedear o
ministro Aldo Rebelo, até aqui o responsável pela negociação.
Lula terá de agir rápido caso não
queira sair queimado da votação do
mínimo de R$ 260. Vai precisar tanto
de Aldo quanto de Dirceu. Principalmente do último, que sempre tratou
com os caciques do Senado -ACM,
Renan Calheiros e José Sarney.
Já deu os primeiros passos para evitar a fogueira. Articula com governadores uma bandeira que possa ser
oferecida para compensar o minguado aumento do salário mínimo.
Palocci também entrará na dança.
Os senadores Tasso Jereissati e Jorge
Bornhausen devem receber algumas
ligações do ministro da Fazenda.
Alguns assessores de Lula não acreditam que a oposição queira derrotar
o governo. Estaria mais interessada
em aplicar-lhe um susto e em produzir uma peça de campanha -espalhar fotos de petistas votando contra
o salário mínimo de R$ 275.
Nem todo mundo pensa assim.
Tanto que a ordem é manter o balcão
aberto 24 horas. Por sinal, é pelo seu
controle que se bate o PT, logo ele, ao
abrir fogo contra Aldo.
Tudo isso vai acontecer na mesma
semana em que o BC decidirá sobre
taxa de juros. Lula que se cuide. O
otimismo que anda esbanjando pode
virar cinzas.
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