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CLÓVIS ROSSI
Segurança, militares e fatos
SÃO PAULO - Chegar a São Paulo e topar com o Exército nas ruas causa
um certo desconforto inicial para
quem tem memória. Mas, depois,
vem a pergunta inescapável: e se essa
presença fosse permanente?
Não vale esconder-se atrás de argumentos escapistas, do tipo "os militares não são treinados para isso" ou "o
trauma de 1964".
O debate deveria levar em conta fatos como estes:
1 - As Forças Armadas brasileiras
estão ociosas, por falta de inimigo, e
assim devem permanecer pelo horizonte previsível, na medida em que
ninguém é capaz de imaginar que a
Bolívia ou o Paraguai vão declarar
guerra ao Brasil ou vice-versa.
Enfrentar país rico, então, está absolutamente fora de questão.
Se o argumento é o de que as Forças
Armadas protegem as fronteiras, alguma coisa está errada na ação delas, porque é difícil descobrir fronteiras mais porosas do que as brasileiras. Por elas passam armas, drogas,
carros e caminhões roubados, imigrantes clandestinos, o diabo.
2 - A polícia (Federal ou estadual,
Civil ou Militar) está despreparada
para combater a violência na dimensão que alcançou, além de ter, como
admitem até as autoridades, "bandas podres" fortemente contaminadas pelo crime organizado (e até pelo
desorganizado).
3 - Corrigir essa anomalia custa dinheiro, que nem o governo central
nem os estaduais têm, ainda mais se
for cumprida a ameaça do ministro
Antonio Palocci de manter por dez
anos o escandaloso superávit fiscal
vigente.
Mesmo que houvesse dinheiro, levaria tempo, tempo que o país não
tem. A questão da segurança pública
é óbvia emergência nacional.
Significa que as Forças Armadas
devem desempenhar o papel da polícia? Não sei. Mas deve haver especialistas capazes de apresentar propostas factíveis que levem em conta os
fatos acima expostos. Fechar os olhos
ou assobiar e olhar para o lado não
leva a lugar nenhum.
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