|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
TENDÊNCIAS/DEBATES
A Unctad e as indústrias criativas
EDEMAR CID FERREIRA
São Paulo será sede de um evento
da maior importância para todas as
pessoas e empresas envolvidas com comércio internacional, investimentos,
tecnologia e indústrias criativas
-aquelas que lidam com arte, cultura,
informação, entretenimento, difusão de
idéias, imagens e voz. Refiro-me à 11ª
Reunião Quadrienal da Unctad (Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento), de hoje ao dia
18 de junho.
O momento é mais do que oportuno
para essa reunião de países em desenvolvimento acontecer no Brasil, agora
que o país exibe vigor em suas exportações, acaba de obter uma vitória na Organização Mundial do Comércio
(OMC), ainda que preliminar, contra os
subsídios norte-americanos ao algodão,
está em plena negociação de acordos internacionais e dá novo impulso às relações Sul-Sul, como mostra a bem-sucedida visita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva à China, no final de maio.
Num ambiente rico em diversidade
cultural e étnica, em que se realizará a
próxima reunião da Unctad, propício à
troca de idéias e realizações, a BrasilConnects contará a sua saga. Foi com
grande satisfação que recebemos o convite para apresentar o "case" BrasilConnects no painel de alto nível sobre Indústrias Criativas e Desenvolvimento,
do qual participarão, entre outras personalidades, o ministro da Cultura, Gilberto Gil, e o secretário-geral da Unctad,
embaixador Rubens Ricupero.
Nossa ONG se insere no setor de indústrias criativas, pois lidamos com patrimônio cultural e sua conservação. Somos uma instituição que produz, promove e divulga patrimônios culturais
de memória. A BrasilConnects já realizou 49 exposições nestes últimos quatro
anos, com 80 patrocinadores nacionais
e internacionais e um total de R$ 150
milhões de mídia espontânea. Ao completar quatro anos de existência, nossa
ONG contabiliza exposições em 12 países e um público de 8 milhões, dos quais
5,5 milhões no Brasil. A mostra "Picasso
na Oca" foi a última no Brasil.
Uma audiência brasileira representativa pôde descobrir outras culturas em
exposições como "Os Guerreiros de
Xi'an", "Parade" e "A Bigger Splash".
A "Mostra do Redescobrimento", no
parque Ibirapuera, em 2000, pode ser
considerada o momento do "grito", do
surgimento de um novo paradigma em
matéria de arte e cultura. Concretizou-se o que o Estado não foi capaz de empreender. A mostra "Brasil + 500"
transformou o sonho de muitos em realidade. E foi, no sentido adotado por
Emile Poulat, um "grito", que antecede
o pensamento, que, por fim, precede a
estratégia. Passado o momento do grito,
a BrasilConnects começou a se impregnar de uma cultura empresarial.
Somos uma instituição que produz, promove e divulga patrimônios culturais de
memória
|
A partir de uma visão de futuro, estruturou-se um novo pensamento. Uma
cristalização de conduta orientada para
o negócio das exposições com patrocínio, bilheteria e venda de objetos ligados à exposição na loja. Um bom negócio, que justificava os investimentos do
próprio Banco Santos. Resumidamente,
a organização assumiu os riscos, mas já
a partir da mostra sobre a China, em
2003, a BrasilConnects chegou a um
ponto de equilíbrio entre os desembolsos e recursos captados. É o início de
novos tempos de auto-sustentabilidade.
O "turning point" em matéria de patrocínio da BrasilConnects foi o Bradesco, que se associou à marca Picasso. Um
dos maiores bancos privados brasileiros
entendeu que se tratava de uma boa exposição para associar a sua marca. O retorno para o Bradesco foi melhorar a
sua imagem, beneficiando-se dessa associação com o mundo das artes.
A trajetória bem-sucedida nas atividades ligadas à cultura e ao meio ambiente estimula agora a BrasilConnects
a planejar seu futuro de olho na consolidação da auto-sustentabilidade. A nova
ação estratégica que está sendo desenvolvida prevê um ciclo mais longo para
as exposições temáticas, que percorrerão o mundo, incluindo os espaços museológicos de países ricos que queiram
receber e descobrir o outro, uma cultura
distinta.
Em consonância com a estratégia de
priorizar programas integrados e de ciclo longo, a BrasilConnects começou a
trilhar um caminho que resume o novo
pensamento da entidade: atingir a auto-sustentabilidade, associar-se cada vez
mais a grandes marcas e atuar como o
principal braço da diplomacia cultural
brasileira. A BrasilConnects pretende
servir de ponte entre as sociedades, tornando suas exibições entretenimento
de elevada densidade cultural, que complementa os acordos diplomáticos firmados entre o Brasil e seus parceiros.
Edemar Cid Ferreira, 60, economista, é o presidente do Banco Santos e da BrasilConnects.
Texto Anterior: TENDÊNCIAS/DEBATES Eduardo Duhalde: Mercosul, nosso destino comum Próximo Texto: Painel do Leitor Índice
|