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ANTÔNIO ERMÍRIO DE MORAES
Ordem e progresso!
Os meus leitores são testemunhas
da imensa fé que tenho neste
país. Vem crise, vai crise, estou sempre trabalhando por acreditar que o
Brasil pode ocupar um lugar de destaque no cenário mundial e tratar melhor o seu povo.
Infelizmente, os últimos acontecimentos prestaram um grande desserviço à nação. Em poucos dias, fizeram
o Brasil perder a confiança duramente
acumulada em seis meses. Refiro-me
ao desrespeito à propriedade privada
no caso das invasões e ocupações; à
atitude de alguns membros do governo que instigaram ações judiciais contra contratos sacramentados e ao conluio de certos parlamentares com corporações conhecidas que, em lugar de
colaborar para a justiça social e para o
equilíbrio das contas da Previdência
Social, pensam apenas nas próximas
eleições e em preservar os seus privilégios.
Foram três golpes fortíssimos. Um
verdadeiro massacre na nossa credibilidade. Será que sobraram muitos investidores dispostos a colocar seu dinheiro em um país onde não se respeita a ordem jurídica e se sinaliza a insolvência das contas públicas?
Penso que não. E, no entanto, o Brasil precisa desesperadamente de recursos (nacionais e internacionais)
para construir sua infra-estrutura e,
com base nisso, crescer e gerar empregos.
Não gostaria de pensar assim, mas
foi um desastre. Quanto tempo vamos
levar para reconquistar a credibilidade com aqueles que já estavam confiando desconfiando?
O estrago foi feito em cinco dias. O
conserto levará anos. E não foi feito
por gente de fora. Nem foi instigado
pelas forças do mal, do FMI, da OMC,
do Banco Mundial ou do protecionismo europeu. Tudo foi fruto do destempero de brasileiros que não medem as consequências do que dizem e
do que fazem numa hora em que o
Brasil precisa se tornar uma atração
mundial para investimentos produtivos.
A captação desse tipo de recurso já
estava fraca. No primeiro semestre de
2003, o Brasil atraiu apenas US$ 3,5 bilhões, contra os US$ 7 bilhões que entraram no mesmo período de 2002
-o que já havia sido muito pouco. Os
mais otimistas estavam estimando
uma captação de US$ 8 bilhões para o
ano todo. Com os ataques da semana
passada à credibilidade, talvez cheguemos a uns US$ 6 bilhões. Isso não é
nada! O Brasil precisa de, pelo menos,
US$ 20 bilhões. Só a rolagem do endividamento externo consumirá cerca
de US$ 28 bilhões! De onde virá esse
dinheiro? Quem vai nos ajudar? Vamos recorrer outra vez ao FMI? Mais
dívida?
Foi uma pena. Oxalá se aprenda a lição. É preciso ficar claro que desrespeito à propriedade, à ordem jurídica
e ao compromisso de saneamento fiscal não se dá impunemente. O "Wall
Street Journal" estampou isso na primeira página da sua edição de 10/7 e
certamente foi lido por milhares de investidores, causando-lhes um profundo desconforto, o que, no terreno doméstico, vai alimentar a recessão, o
desemprego, a informalidade e a dilaceração do tecido social.
Enfim, vamos passar uma borracha
no ocorrido e tocar o carro para a
frente, porque a caminhada ficou
mais longa. Que isso não se repita.
Antônio Ermírio de Moraes escreve aos domingos nesta coluna.
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