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CARLOS HEITOR CONY
A galinha e o povo
RIO DE JANEIRO - "Enquanto a galinha põe ovo, Chacrinha está com o
povo!". Lembro o Velho Guerreiro,
pernambucano como Lula e, como
Lula, amado pelo povão, que continua apoiando o presidente, mas desacreditando cada vez mais no seu
governo.
Sempre ouvi falar que a voz do povo é a voz de Deus. Não tenho elementos para aceitar ou para negar a
sentença, que, por sinal, parece que
foi fabricada pelo próprio povo, e não
por Deus. Ao longo da história, nem
sempre ela foi confirmada. Em tempos antigos, houve um papa, o representante mais categorizado de Deus
na Terra, que, ao morrer, teve o corpo
sequestrado e ia sendo jogado no Tibre pelo povo que não gostava dele.
Há outros exemplos menos piedosos da discrepância entre a voz do povo e a voz de Deus. Mas fiquemos
com Chacrinha e com as galinhas,
que, inexoravelmente, desde que são
galinhas põem ovo. Outro dia, vi um
filme em que o Velho Guerreiro, paramentado com tudo o que lhe dava
na cabeça e cabia em sua volumosa
barriga, disse uma frase que me pareceu atual: "Vamos animar!".
Pesando bem, animação foi o que
nunca faltou no festivo bloco do PT.
O próprio Lula, sempre que pode e
mesmo quando não deve, anima-se
por conta própria, enfrentando peladas, churrascos com carnes especializadas. E seus olhos brilham quando é
fotografado ao lado de mulheres de
carnes também especiais.
Acontece que sua animação ainda
não contagiou devidamente a equipe
que escolheu e da qual ele espera o
crescimento nacional, o desenvolvimento econômico, a justiça social, o
teto para todos e para todos o pão.
Enquanto não chegam tantas e tamanhas maravilhas, o certo é que as
galinhas, onde houver galinha, continuarão botando ovos. Já é alguma
coisa. Será pior no dia em que nem as
galinhas farão o que delas se espera.
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