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ELIANE CANTANHÊDE
Socorro, governadores!
BRASÍLIA - Detectado o desastre, buscaram-se os culpados pelo excesso
de concessões que ameaçavam (ou
ameaçam?) uma reforma pelo menos
razoável da Previdência.
Pela ordem, a "culpa" pelo recuo na
reforma foi do presidente do Supremo, Maurício Corrêa, dos juízes, da
bancada petista, dos líderes partidários e do Congresso como um todo.
O governo, coitado, não tem culpa
nenhuma. Magnânimo, limitou-se a
ouvir as vozes da sociedade e a recusar-se a interferir no Congresso.
Detectada em seguida a necessidade voltar atrás e de repor as coisas e a
reforma no lugar, procuram-se agora
os novos "culpados", que vão ter de
publicamente exigir o compromisso
com o fim da paridade e das aposentadorias integrais dos servidores
-essência da reforma original.
E quem são esses culpados pelo recuo do recuo, ou seja, os vilões da história? Os governadores, ora!
Mais uma vez, o governo será magnânimo, apenas "ouvindo" e "cedendo" à pressão dos governadores.
As versões acima são as que interessam ao Planalto. Os fatos, porém, são
bem diferentes: foi o governo quem
capitulou e patrocinou o recuo; como
é o governo quem faz meia volta e comanda o recuo do recuo.
O próprio Lula passou de bonzinho
para a cúpula da CUT, cedeu às pressões do Judiciário e liderou o quase
enterro da reforma. Agora, entretanto, desfila pela Europa fingindo que
não é com ele. É com o Congresso e os
governadores.
Enquanto isso, Palocci bate na mesa, e o Planalto chama os governadores para uma reunião na terça-feira
com a seguinte divisão de tarefas: eu,
governo federal, sou todo ouvidos;
vocês, governadores, é que assumam
para juízes, servidores, aposentados e
aparentados que estão acabando
com o "acordão" e recuperando a essência da reforma. Em resumo: eu fico de bonzinho, vocês ficam de vilões.
No olho do furacão, Alckmin, Aécio, Jarbas Vasconcelos e Lúcio Alcântara, entre outros, tratam de salvar a reforma. Alguém tinha de fazer
isso. Na falta de coragem do governo,
sobrou para eles.
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