|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
CLÓVIS ROSSI
Chamem o Duda
LISBOA - Luiz Inácio Lula da Silva tem sido uma espécie de atração turística nos países em que ou há grande número de brasileiros ou uma
porção razoável da população sabe
que o Brasil existe e que elegeu, faz
pouco, um operário originalmente de
esquerda para presidi-lo.
Por isso mesmo, começa a causar
decepção o comportamento asséptico
que Lula vem adotando nas suas viagens. Já havia acontecido, no mês
passado, em Assunção, durante a cúpula do Mercosul.
A mídia local caiu matando no que
chamou de "discurso burocrático" de
Lula e na falta de contato com o público, em brutal contraste com a total
disponibilidade de Hugo Chávez, o
presidente venezuelano.
Agora é o "Público", o melhor jornal português, no qual Eunice Lourenço diz que "tem faltado festa e povo (à visita), na qual o presidente
brasileiro tem parecido espartilhado
pelo fato (terno) e gravata, que o fazem suar em bicas".
Dê-se um desconto ao corporativismo embutido na queixa, tanto em
Assunção como em Lisboa. Os jornalistas queremos que o presidente fale
(conosco, não com o tal de povo) de
cinco em cinco minutos, em qualquer
hora e circunstância.
Dê-se um segundo desconto ao fato
de que a "falta de povo" citada pelo
"Público" embute também a idéia estereotipada de que líderes vindos do
andar de baixo têm de ter comportamento "popular" (seja o que for
"comportamento popular" na cabeça
de cada qual).
Ainda assim, estão faltando duas
coisas nas viagens internacionais de
Lula: uma é informação qualificada
a respeito dos contatos por ele mantidos, necessariamente longe dos olhos
e dos ouvidos dos jornalistas. Faltava
também na era FHC, mas um erro
não justifica o outro.
A outra coisa é mais Lula e menos
Luiz Inácio. Por dever de ofício, presto atenção até à gestualística dos presidentes que me toca acompanhar e
sou forçado a conceder que Eunice
Lourenço acertou na mosca com a
expressão "espartilhado" usada para
caracterizar o Lula de Lisboa.
Texto Anterior: Editoriais: SALVAÇÃO DA LAVOURA Próximo Texto: Brasília - Eliane Cantanhêde: Socorro, governadores! Índice
|