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SALVAÇÃO DA LAVOURA
São animadores os números
da safra de grãos do Brasil, que
deverá colher neste ano o recorde
histórico de 120 milhões de toneladas. Com isso, o país deverá tornar-se o maior exportador mundial de
soja, suplantando os Estados Unidos. Estudo das Nações Unidas prevê que o Brasil candidata-se a assumir, em 12 anos, o posto de maior
produtor mundial de alimentos. O
salto de 24% na produção de grãos
em relação ao ano passado encena
um solitário espetáculo de crescimento em contraste com o cenário
de retração econômica e más notícias do setor produtivo.
O agronegócio brasileiro tem sido
um caso auspicioso de investimentos e avanços tecnológicos que o colocam em patamares de produtividade extremamente competitivos no
cenário internacional. Esse esforço
foi estimulado, mais recentemente,
por uma situação cambial favorável,
que consolidou o setor agroexportador como uma grande ilha de expansão. O saldo comercial do agronegócio foi de US$ 23 bilhões nos 12 meses terminados em maio.
Curiosamente, a boa notícia da
agricultura vem a público simultaneamente ao recrudescimento das
mobilizações do MST, com novas invasões de terra e forte pressão sobre
o governo e as instituições. A convivência de um setor altamente capacitado e produtivo com realidades fundiárias atrasadas e massas de trabalhadores rurais desempregados evidencia as contradições do campo
brasileiro -ao mesmo tempo em
que sugere algumas reflexões.
A idéia, difundida por alguns, de
que a reforma agrária baseada na
criação de assentamentos e distribuição de lotes teria um impacto decisivo no futuro da produção de alimentos vai ficando cada vez mais distante
da realidade.
Se a pequena propriedade e o cooperativismo familiar podem vir a ter
importância econômica, ela parece
estar mais vinculada a efeitos indiretos do que propriamente a uma mudança mais significativa na produtividade rural. Nesse sentido, a reforma agrária contribuiria especialmente para a fixação de populações rurais
no campo, para a melhoria de suas
condições de vida e de seu poder de
compra, com reflexos no mercado
interno e na redução das pressões
migratórias sobre as grandes cidades. Seria uma importante conquista
democrática, mais do que um grande avanço econômico.
A realidade do agronegócio evidencia que a produção de alimentos no
país já encontrou seu motor -e ele
move-se em ritmo acelerado. Cabe
ao governo, diante de resultados tão
significativos, não descurar das condições capazes de manter as exportações agrícolas competitivas.
É preciso estar atento, como observou o ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, aos riscos de uma
"crise de abundância". O agricultor
precisa ter perspectivas asseguradas
de escoamento da colheita para que
se evite um recuo no plantio. Não
fosse o desempenho da atividade exportadora, a economia brasileira estaria não apenas exposta a maior vulnerabilidade externa como a níveis
de retração ainda mais preocupantes
do que os atuais.
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