São Paulo, domingo, 13 de julho de 2003 |
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TENDÊNCIAS/DEBATES Mercosul, o desafio da credibilidade RICARDO LAGOS
O mundo está olhando para o Mercosul com o interesse de quem
contempla um novo processo em marcha. Há uma força diferente, uma certa
energia derivada da liderança demonstrada pelos novos mandatários da região. E isso transmite entusiasmo a todos, membros e associados, sobre as
possibilidades que o momento nos oferece de levar adiante uma política mais
ampla. O Mercosul tem raízes. Mas, como temos dito desde que nos incorporamos às suas tarefas, a iniciativa que o
embasa vai muito além de uma união
aduaneira, por mais que esta seja importante. O Mercosul é um grande projeto histórico que entrou em uma fase
de grandes coincidências.
Coordenação dos membros e associados do Mercosul com relação às políticas multilaterais no âmbito político, assim como no âmbito econômico; dar impulso a políticas macroeconômicas comuns, com base nas quais se poderão estruturar acordos sobre inflação, déficit fiscal, política monetária e outros temas que definam as responsabilidades compartilhadas e as responsabilidades próprias em cada campo; desenvolvimento de posições compartilhadas no âmbito da segurança, assumindo os novos desafios e perigos que afetam nossa região, e a vinculação entre eles e o resto do mundo; harmonização das políticas em questões comerciais relacionadas a direitos de propriedade intelectual e seus derivados, em negociações com a OMC e tratados comerciais; avanços na direção de uma política comum de defesa, com base nos acordos de zona de paz já alcançados, buscando uma homologação soberana dos gastos com a defesa e definindo políticas de coordenação regional; desenvolvimento de políticas ambientais e defesa dessas políticas, tendo como referência as novas exigências de acesso aos mercados mundiais; coordenação e execução dinâmica dos programas de infra-estrutura física, especialmente na perspectiva dos corredores bioceânicos e das relações entre o Mercosul e outras regiões do mundo; desenvolvimento de tecnologias da informação e comunicação, na perspectiva do "espaço Mercosul", para o incremento dos recursos próprios no diálogo intra-regional e extra-regional. O que devemos ter em mente é um entendimento político com letras maiúsculas, trabalhando por uma agenda que aumente a força do Mercosul em todos os âmbitos a que seremos convocados. Cada um de nós pode pôr em campo sua experiência específica. O Chile negociou acordos comerciais com a Europa, com os EUA, com a Coréia do Sul. Nós o fizemos com base em uma visão de "regionalismo aberto" que nos leva a compreender precisamente, na região, o quanto foi possível alcançar e quanto será necessário negociar em outros âmbitos. Se, do lado de fora, avançamos em nossos acordos comerciais, está aqui o espaço a partir do qual fazemos nossa política externa. Se chegarmos à próxima conferência do Mercosul, no Uruguai, com três ou quatro programas de trabalho muito precisos e já em curso, seremos vistos com outros olhos. Nosso desafio é o da credibilidade. Se pudermos dizer que "estamos coordenando políticas macroeconômicas", acreditarão em nós, porque o propósito de avançar com seriedade será visível. Levar-nos-ão em conta caso advirtamos que não confundimos as metas de longo prazo com a construção daquilo que está hoje ao nosso alcance. Toda muralha começa pela união dos primeiros tijolos. Ricardo Lagos Escobar, 65, é presidente da República do Chile. Texto Anterior: Frases Próximo Texto: Rubens Antonio Barbosa: A cúpula de Washington Índice |
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