|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ANTÔNIO ERMÍRIO DE MORAES
Curiosidades da Joaninha
Muitos me perguntam por que
escrevo tanto sobre a Joaninha,
minha antiga companheira de ginásio. Em primeiro lugar, porque ela é
uma criatura adorável, imersa em
profunda bondade e, ao mesmo tempo, astuta como um azougue. Em segundo lugar, porque ela gosta de esconder a idade e eu adoro brincar com
isso, o que proporciona diálogos deliciosos nos quais eu "acredito" no que
ela diz e ela está certa de estar mentindo. No ginásio, ela era mais velha do
que eu. Como pode agora, depois de
60 anos, querer ser mais nova?
Chegando ao meu escritório na
quarta-feira, vi um fax enviado por
ela, segundo o qual Margaret Cole,
uma "jovem" de 92 anos, residente na
Austrália, obteve um empréstimo
bancário no valor de US$ 107 mil para
comprar sua casa própria, tendo um
prazo de 30 anos para saldá-lo! Segundo a Joaninha, que está pensando seriamente em se mudar para Sidney...,
a "jovem" vai para a nova casa neste
fim de semana.
Mal acabara de ler a notícia, ela me
telefonou para saber por que, no Brasil, nem mesmo um jovem forte e sadio pode se arriscar a tomar um empréstimo do banco, pois, ao ver a taxa
de juros, corre o risco de morrer infartado na frente do gerente.
Ela quer saber por que, em um país
onde há um déficit de mais de 6 milhões de residências e onde há tanta
falta de emprego, não se dispõe de um
programa arrojado de construção civil realmente voltado para os mais pobres e que pode gerar milhões de postos de trabalho.
De fato, a elevadíssima taxa de juros
do Brasil não pode continuar. A conquista da estabilidade da moeda foi
uma peça importante. O cumprimento dos contratos assumidos e a responsabilidade fiscal foram igualmente
essenciais. Mas, daqui para a frente,
essas condições conquistadas têm de
se transformar em trunfo para baixarmos com firmeza os juros brasileiros.
O caminho está delineado e acaba de
ser testado com sucesso. Em 2002, o
Brasil conseguirá acumular cerca de
US$ 10 bilhões em decorrência de um
superávit comercial que surgiu, basicamente, do sucesso de nossas exportações -apesar da crise Argentina, do
terrorismo e da queda das Bolsas no
Primeiro Mundo.
É isso que interessa. Precisamos de
dólares de trabalho (exportações), e
não de dólares de dependência (empréstimos). A dívida do Terceiro
Mundo cresce na base de 8% ao ano,
tendo ultrapassado a casa de US$ 2,5
trilhões. Os banqueiros não reclamam
o pagamento do principal, pois estão
contentes com os juros que recebem.
Nós, brasileiros, podemos sair dessa
armadilha ao explorar, no limite, a
grande potencialidade das exportações. Para tanto, precisamos manter a
estabilidade da moeda e a confiabilidade dos governantes. Tendo isso, o
Brasil sairá dessa situação constrangedora. Baixando juros, voltaremos a investir. Investindo, geraremos emprego. Gerando emprego, criaremos renda. Criando renda, estimularemos o
consumo. Empregado, com renda e
consumindo mais, o povo estará melhor.
Antônio Ermírio de Moraes escreve aos domingos nesta coluna.
Texto Anterior: Rio de Janeiro - Carlos Heitor Cony: Pesquisando as pesquisas Próximo Texto: Frases
Índice
|