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ANTÔNIO ERMÍRIO DE MORAES
Água, a grande riqueza do país
Lembro-me muito bem das aulas
do curso primário, quando minha
professora discorria sobre as principais riquezas do mundo -diamante,
ouro e prata. Mais tarde, os escritos de
Monteiro Lobato ressaltaram o petróleo como o bem mais precioso da humanidade. Hoje, é a água.
Apesar de o Brasil possuir água em
abundância, o problema já bate às
nossas portas. Na capital de São Paulo,
a situação é dramática. Tivemos um
verão com chuvas torrenciais. As ruas
se inundaram, mas as torneiras ficaram secas. O sistema Cantareira, que
abastece 9 milhões de pessoas, tem reservas de apenas 17%, quando o normal é 40% -menos da metade.
O fato é simples. A população cresceu, e as reservas decresceram. O investimento necessário para recuperá-las pelo sistema convencional é monumental. Fala-se em R$ 5,5 bilhões.
O drama da água não atinge só a capital de São Paulo. Neste verão chuvoso, 96 municípios do Rio Grande do
Sul amargaram uma das mais terríveis
secas, o que afetará o seu desempenho
agrícola em 2004.
Os exemplos se sucedem. O problema da falta de água é mundial. Quando se olha para os grandes números, a
água da Terra é abundante. Mas,
quando se subtrai o que evapora na atmosfera, o que está no mar e o que forma as geleiras, a disponibilidade de
água doce cai para apenas 2,5% e,
mesmo assim, a maioria é inacessível
-está nas calotas polares. O que sobra, para uso imediato, é apenas 0,3%.
Mas Deus é brasileiro. Os chamados
"aqüíferos" possuem uma quantidade
de água monumental. Os governos
deveriam dar alta prioridade à exploração desses depósitos. O aqüífero
Guarani, o mais importante para o hemisfério Sul, só no Brasil possui cerca
de 43 mil km3 de água. É uma enormidade, que daria para abastecer cerca
de 450 milhões de pessoas. Somos ou
não somos privilegiados?
Infelizmente, esse potencial tem sido
ignorado. Os governos têm se concentrado na exploração de outras alternativas de água, incertas e onerosas. Em
São Paulo, por exemplo, cogita-se
construir uma adutora para trazer
água do vale do Ribeira que custaria
cerca de R$ 1,5 bilhão. Por que não explorar o gigantesco aqüífero Guarani
que está à disposição dos paulistas?
Está na hora de nossos administradores darem menos ouvidos aos burocratas e mais atenção aos pesquisadores. Os estudos sobre os aqüíferos
estão muito adiantados (Aldo da C.
Rebouças e colaboradores, "Águas
Doces no Brasil: Capital Ecológico,
Uso e Conservação", editora Escrituras, São Paulo, 2002).
O Brasil tem uma situação privilegiada no que tange à "recarga" dos
aqüíferos -ou seja, o tempo para enchê-los. Nos Estados Unidos, a recarga é lenta; no Brasil é rápida, sendo
que o estoque atual tem uma vida útil
estimada em cerca de 300 anos!
O que estamos esperando para explorar essa riqueza?
Antônio Ermírio de Moraes escreve aos domingos nesta coluna.
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