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EDITORIAIS
FMI NÃO É CALMANTE
Há anos se discute a atuação
do Fundo Monetário Internacional em momentos de crise financeira de países em desenvolvimento.
O desenho de suas políticas se encontra sob intenso debate, pois a posição dominante no governo dos Estados Unidos é a de confiar aos mercados os ajustes, doa a quem doer.
No entanto, das muitas possibilidades de inovação nas receitas e nos
critérios do FMI, a menos sustentável é a de passar a funcionar como
instrumento de curto prazo.
Afinal, a credibilidade de que o
Fundo ainda usufrui nos mercados
financeiros vem sobretudo da expectativa de que a instituição seja capaz
de formular, implementar e monitorar programas de ajuste estrutural.
O que os mercados esperam são
mudanças de médio e longo prazo
nas políticas econômicas dos países
em dificuldades econômicas. A prioridade é garantir o pagamento das
dívidas às instituições financeiras.
Assim, não há lógica em buscar no
FMI os benefícios de um calmante,
remédio de curto prazo que não altera as causas profundas do estresse.
Sem dúvida é virtuosa a busca de
apoio à economia brasileira neste
momento. Mas não se deve esperar
do remédio algo que nem sua fórmula nem as condições do paciente são
capazes de assegurar.
Um título de dívida pública, interna
ou externa, é sempre um contrato
com o Estado. Mas um acordo com o
FMI é sempre apenas um compromisso com o governo do momento.
Não há força capaz de convencer os
mercados de que metas e políticas de
governos em fim de mandato serão
honradas pelos sucessores.
O máximo que se pode esperar do
FMI é apoio a um plano durante a
transição ao novo governo. Mas a validade desse estratagema expira no
dia 31 de dezembro de 2002.
Os mercados estão escaldados justamente com a fragilidade dos acordos com o FMI. O governo FHC já estava reeleito e parecia manter total
hegemonia sobre a condução da política econômica quando firmou, em
1998, o acordo com o FMI que assegurava ao mundo a continuidade da
âncora cambial. Mas ela foi por terra
no início de 99, sob o mesmo presidente e a mesma equipe econômica.
Quem estará disposto a acreditar
em novas promessas, compromissos e metas no final de um governo
que, ademais, tem dificuldades para
fazer o sucessor? E enfrenta, novamente, os efeitos de anos de adesismo a políticas econômicas que fragilizam as finanças do país?
A ida ao Fundo também pode ser
uma faca de dois gumes. Os mercados, diante de mais uma rodada de
reforço às reservas internacionais do
país, podem tudo interpretar como
nova evidência de que a fragilidade
da economia é maior que a imaginada. Ou de que o país adota uma estratégia de fazer mais dívida no exterior
para rolar a dívida existente, sem cuidar das condições para que a acumulação de passivos não seja explosiva.
O feitiço se voltaria contra os feiticeiros e a busca de mais ajuda poderia ser entendida como confissão involuntária de menos capacidade de
controle. Tanto o governo quanto os
candidatos possivelmente fariam
melhor aprofundando o debate sobre o modelo econômico brasileiro.
O esforço de criar novamente a ilusão de que nada vai mudar pode resultar, como já se viu no passado recente, numa espécie de anestesia que
entorpece, inviabilizando de vez a
condução da política econômica que
se pretendia salvaguardar.
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