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CLÓVIS ROSSI
A crise da cobiça
SÃO PAULO - A capa da revista britânica "The Economist", na edição que
começou a circular sexta-feira, avisa
que "o capitalismo americano está
tomando uma surra".
Já o jornal também britânico "Financial Times" abriu, na sua versão
eletrônica, uma rubrica chamada
"crise do capitalismo".
Será que chegou enfim "a crise final
do capitalismo" -tantas vezes
anunciada pelos velhos comunistas
apenas para que a crise final do comunismo os atropelasse?
Não. A crise é de um modelo, o modelo norte-americano de fazer negócios, como escreve o colunista William Pfaff em "The International
Herald Tribune":
"O modelo (...) de hoje é recente.
Poderia ser descartado e substituído
por algo mais racional se houvesse
vontade para fazê-lo. Mas a ideologia e a cobiça se interpuseram. A
ideologia é a desregulação".
Eis o ponto: capitalismo e cobiça
sempre foram sinônimos. E sempre
serão. O que a contém é exatamente
a capacidade de regulação pelo Estado numa ponta e a de controle pela
sociedade na outra (nem que seja pela microssociedade formada pelos
acionistas de uma dada empresa).
Enquanto o comunismo assustava,
o capitalismo se via forçado a regular-se e a fazer concessões. Cedeu
anéis (nem todos) por medo de perder os dedos. Derrotado o comunismo, ficou sem freios e chegou ao que
Pfaff chama de "modelo americano
de negócios de hoje".
Já houve quem preferisse outra definição. No início do século 20, o então presidente norte-americano
Theodore Roosevelt, às voltas com
outro surto de cobiça desvairada,
chamou os homens de negócio de
"malfeitores de grande riqueza".
É o que conta Eric Rauchway, professor de história da Universidade da
Califórnia, em texto para o "FT" significativamente chamado de "Um século de crime corporativo".
Como o comunismo também não é
resposta, resta, até que se invente coisa melhor, "crescente regulação governamental", ensina Rauchway.
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