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ANTÔNIO ERMÍRIO DE MORAES
Dá para entender?
Os cenários internacional e nacional vêm sofrendo do mesmo
mal -uma perigosa falta de credibilidade.
Nos Estados Unidos, onde a economia é ancorada nas Bolsas de Valores,
o mercado financeiro está estarrecido
com as consequências das mentiras
plantadas em certos balanços. Só em
2002 os investidores (empresas e povo) perderam US$ 2,4 trilhões, que representam 25% do PIB americano!
Trata-se de um empobrecimento
colossal e gerador de incalculáveis
problemas futuros. De um dia para o
outro, as ações viraram pó, prenunciando o clima de 1929 quando tudo
era rosa para o presidente Herbert
Hoover e negro para o mercado.
O presidente George W. Bush compareceu ao paraíso da livre iniciativa
-a Bolsa de Wall Street- para dizer
que o governo vai intervir na economia, exigindo dos agentes econômicos seriedade e ética.
Tal atitude, além de inusitada para
um republicano, pouco efeito teve
-as Bolsas de Valores caíram no dia
do pronunciamento-, mesmo porque duas graves suspeitas recaem sobre ele e seu vice-presidente, Dick
Cheney.
Como se vê, credibilidade é uma
mercadoria escassa. E o Brasil não está
fora disso. Certos candidatos juram
por todos os santos que vão respeitar
os contratos das dívidas interna e externa e, ainda assim, o mercado financeiro duvida. Empresas e pessoas se
desfazem de títulos públicos com medo de sofrer calote.
A credibilidade vai a zero também
quando as pessoas mais atentas vêem
partidos de origem socialista se coligando com partidos de origem liberal
-líquidos imiscíveis- com o propósito único de vencer as eleições.
Isso não quer dizer que esses partidos tenham agendas conflitantes, porque os programas, quando existentes,
são suficientemente genéricos para
acomodar todos os gostos.
A adesão de líderes liberais às chapas
de quem defendeu, no passado recente, idéias radicais e programas populistas não é menos confusa.
A sociedade entre os ex-combatentes da corrupção e os campeões da
malversação dos recursos públicos indica, igualmente, o extremo do oportunismo que veio dominar a política
brasileira.
Lembremos que o TSE tentou pôr
um pouco de ordem na casa, proibindo coligações de contrários na linha
vertical. Imaginem se isso não tivesse
sido feito...!
O mundo e o Brasil vivem uma quadra de incredulidade. Essa situação
não é boa para a economia nem, muito menos, para a política. Os seres humanos são racionais, mas se guiam
também por atos de fé. Investidores e
eleitores precisam ter um mínimo de
confiança antes de tomar suas decisões.
Na incerteza e na descrença, o investimento é adiado e o voto é desperdiçado. Isso não pode e não deve acontecer. Cada um no seu canto tem a importante tarefa de agir de acordo com
a sua consciência. Será um bom começo para restaurar a credibilidade.
Menos teatro e mais sinceridade!
Antônio Ermírio de Moraes escreve aos domingos nesta coluna.
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