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FERNANDO DE BARROS E SILVA
Mocinhos e bandidos
SÃO PAULO - As operações da Polícia Federal ganharam corpo no
governo Lula e logo se tornaram encenações midiáticas de justiçamento, uma espécie de teatro instantâneo para a TV cujo clímax reside na
imagem da pessoa poderosa algemada e presa por algumas horas.
Esse ritual de humilhação e execração pública -pelo qual o acusado fica exposto como se lhe gravassem com ferro em brasa na testa
LADRÃO!- tem sido a verdadeira
condenação das vítimas endinheiradas da PF. Na Justiça e ao cabo,
todos sabem que vão se safar.
A PF parece ter descoberto a fórmula mágica capaz de saciar o apetite das massas, fazendo do espetáculo das prisões uma compensação
para a quase certeza da impunidade
no final. E dá-lhe grampo! -como
nunca antes neste país.
O delegado Protógenes Queiroz
trouxe agora uma novidade à cultura policial da era Lula. As 245 páginas de seu inquérito são produto de
uma cabeça messiânica em estado
de êxtase. Além de grampear o idioma, o homem da lei se atribui a missão de salvar o país e combater obstinadamente os males do capitalismo. Protógenes é uma mistura de
Eliot Ness com Sassá Mutema.
Esse contrabando místico-ideológico que contamina o inquérito
serve, na prática, para justificar
barbaridades, como o pedido de
prisão da jornalista Andréa Michael. Lendo a peça do delegado entende-se por que sua equipe invadiu o consultório de um dentista
acreditando prender um doleiro.
A inépcia, os atropelos e a megalomania da PF beneficiarão os culpados, a começar pelo "bad boy" das
privatizações, o neomeliante que
espelha a face delinqüente do moderno capitalismo brasileiro inaugurado com Fernando Collor.
Daniel Dantas é um vilão de novela, uma raposa de desenho animado. Todo mundo sabe que ele é o
que é. Que "gênio do mal" é esse, tão
transparente, tão trapalhão, sempre aprontando e sempre em apuros? Protógenes corre o risco de tê-lo transformado numa vítima de
sua ambição insana de livrar o
mundo de todos os seus pecados.
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