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KENNETH MAXWELL
Guerra e esportes
OS ANTIGOS gregos suspendiam suas guerras durante a
Olimpíada. Na Era Moderna, os Jogos Olímpicos não tiveram
a mesma sorte. Para agravar ainda
mais as coisas, eles acontecem em
agosto. No hemisfério norte, o mês
coincide com aquilo que costumava ser conhecido de "a estação de
marcha", a época do ano em que
tropas podem ser movidas sem que
o mau tempo imponha um fardo.
A despeito disso, os políticos insistem em tirar férias em agosto. A
família Bush, por exemplo, estava
no estádio Ninho de Pássaro, em
Pequim, para a cerimônia de abertura, enquanto tropas russas invadiam a Ossétia do Sul, uma província autônoma da Geórgia na qual a
maioria dos habitantes fala russo.
Os russos decidiram que não mais
tolerariam as provocações da
Geórgia. E tampouco aceitariam o
desejo do governo Bush de ver a
Geórgia incorporada à Organização do Tratado do Atlântico Norte
(Otan). Vladimir Putin, o primeiro-ministro russo, tinha em posição o
poderio militar necessário para
mudar os fatos. George W. Bush ficou reduzido a uma retórica vazia.
Nas zonas geográficas de fronteira ocupadas por múltiplas etnias,
que o antigo império soviético costumava governar com punho de
ferro, ou nos Estados multiétnicos
dominados durante a Guerra Fria
por sistemas de partido único, como a Iugoslávia, o colapso do domínio comunista centralizado deflagrou confrontos violentos entre
minorias étnicas desejosas de afirmar suas identidades.
O conflito com a Geórgia é um
deles. E a paranóia russa agora está
acompanhada de uma agressividade militar redescoberta. A morte
de centenas de pessoas na Geórgia
nesta semana faz disso tudo um espetáculo lastimável.
E vale a pena recordar, neste
contexto, como o Brasil tem sorte.
O traçado geral das fronteiras brasileiras foi reconhecido por tratados internacionais nos anos 1750,
bem mais de meio século antes de
que o Brasil se tornasse uma nação
independente. Esse foi um legado
dos pensadores geoestratégicos
portugueses, concretizado pela
presença de aventureiros brasileiros, mineradores de ouro e diamantes, pecuaristas, plantadores
de cana-de-açúcar e intrépidos
missionários. Os séculos 19 e 20 foram testemunha da consolidação
dessas fronteiras. A tarefa nunca
foi fácil, mas, como resultado, o
Brasil não tem um Cáucaso.
No entanto, eram os antigos gregos que tinham a idéia correta: esporte, e não guerra, pelo menos durante a Olimpíada.
Infelizmente, nem Putin, nem
Bush são grandes apreciadores de
história.
KENNETH MAXWELL escreve às quintas-feiras
nesta coluna.
Tradução de PAULO MIGLIACCI .
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