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CARLOS HEITOR CONY
Cachorro atropelado
RIO DE JANEIRO - Aprendi com os meus maiores que não se deve chutar
cachorro atropelado. Não considero
o PT um cachorro atropelado, pelo
contrário, é um cachorrão saudável
que, entre outras coisas, está no poder.
A reabertura do caso que envolveu
uma das prefeituras governadas pelo
partido está servindo de pretexto para a malhação global de todos os petistas, vivos ou mortos, o que, além de
um exagero, é uma imbecilidade.
É bem verdade que o PT fez por merecer essa onda quando, ao serem assassinados dois de seus prefeitos, tentou vender à opinião pública a idéia
de que o partido estava sendo vítima
de uma conspiração macabra que
ceifaria todos os seus membros num
momento em que as pesquisas começavam a indicar a preferência do
eleitorado por Lula.
Li e ouvi comentários furibundos
de petistas e simpatizantes, que temiam uma caça às bruxas federal,
embora os dois casos, o de Campinas
e o de Santo André, tenham sido municipais. Estranhei -e continuo estranhando- a aura de sacralidade
atribuída ao PT, trigo dourado que
insiste em crescer no meio do joio daninho da política nacional.
Como em outras instituições, como
a igreja, as Forças Armadas, a magistratura, o empresariado, a imprensa
e os árbitros de futebol, há sacanas
espalhados por todos os setores da
atividade humana. Considerar o PT
um rebanho de vestais, castas Suzanas incorruptíveis, é também um
exagero e uma imbecilidade.
Devemos criticar o partido pela
pretensão de ser um lírio imaculado
no lodo da vida pública nacional. Fatos isolados não podem servir de argumento para a condenação genérica do PT. Desde o início do caso de
Santo André havia indícios de corrupção na prefeitura local. A indignação dos petistas, que se fizeram de
vítimas imoladas por uma conspiração, foi e continua sendo uma tolice.
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