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ANTÔNIO ERMÍRIO DE MORAES
China, Estados Unidos e nós
Os Estados Unidos continuam
sendo a grande locomotiva do
mundo, especialmente agora, quando
a economia volta a crescer acima de
5% ao ano! A outra locomotiva é a
China, com um crescimento estimado
de 8,5% em 2003, repetindo a façanha
das últimas duas décadas.
O gigante asiático estava escalado
para liderar o planeta ao longo do século. Mas nem tudo são flores. No momento em que escrevo este artigo, os
chineses passam frio. O aquecimento
foi racionado, as lojas estão às escuras,
as fábricas trabalham menos e as escolas funcionam à meia-luz. Qual o motivo? Falta de energia!
A situação é crítica. Só neste ano, a
demanda por energia aumentou
15,6% em relação a 2002. É um crescimento espantoso. As usinas hidroelétricas, que produzem apenas 5% da
eletricidade, foram atingidas por forte
seca. Ademais, a China tem apenas 7%
da água do mundo, e o lençol freático
desce a cada dia. O carvão, que responde por 75% da eletricidade, está
com o uso controlado devido à limitação das usinas e à multiplicação de
acidentes fatais nas minas.
O quadro é complexo e os desafios
são enormes. A China tem 1,3 bilhão
de habitantes, que só agora começam
a se transformar em consumidores. A
zona rural terá de ser eletrificada. As
residências precisam ser melhoradas.
O consumo de eletrodomésticos e de
automóveis tem de aumentar. O
transporte motorizado, que hoje é de
dez veículos por mil habitantes, deverá saltar para 55 por mil em 2015. Como conseguir isso sem energéticos?
A China terá de investir a fabulosa
soma de US$ 2,3 trilhões para atender
a demanda interna de energia até
2030. É muito dinheiro em pouco
tempo!
A escassez de energia endureceu o
jogo. Há risco de o país desacelerar o
crescimento, a menos que o governo
decida buscar energia em outras partes, começando sempre pela via da
compra.
Os Estados Unidos tampouco têm
energia para sobreviver nos padrões
atuais: é do petróleo importado que
sai a maior parte da sua eletricidade.
As reservas domésticas são diminutas.
A média de produção dos 600 mil poços dos Estados Unidos é de míseros
11 barris por dia, enquanto na Arábia
Saudita é de 9.000! Daí a ânsia de os
americanos se aproximarem dos produtores de petróleo.
O que tudo isso significa para o Brasil? Uma imensa oportunidade de exportação. A China, em 2010, terá uma
população de 1,4 bilhão de pessoas e,
para alimentá-las, terá de importar
cerca de 300 milhões de toneladas de
alimentos por ano -lembrando que
para produzir uma tonelada de comida são necessárias cerca de mil toneladas de água.
Mas, para o Brasil explorar bem essas oportunidades, teremos de cuidar
das nossas fontes de energia. Já experimentamos o "sabor" do apagão, e ninguém gostou -nem o povo nem,
muito menos, o governo. Por isso,
nesse campo, toda a atenção é pouca.
Antônio Ermírio de Moraes escreve aos domingos nesta coluna.
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