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ANTÔNIO ERMÍRIO DE MORAES
Motocicletas, sim, mas com ordem e responsabilidade
Você, caro leitor, que dirige automóvel em São Paulo, deve passar por sobressaltos ao se deparar com
a enorme massa de motociclistas que
circulam na capital paulista.
É claro que todos têm direito ao uso
das vias públicas. Mas há usos e usos.
Os "motoqueiros" se enfiam pelas
apertadas frestas que ficam entre os
automóveis, colocando sua própria
vida em risco e causando graves problemas para os motoristas e até para
os pedestres.
Com os terríveis congestionamentos
do trânsito em São Paulo, é compreensível o espetacular crescimento
das motocicletas para serviços de entregas rápidas -de um modo geral,
mal remunerados. Para os motoristas
e pedestres, a profusão de motoqueiros indisciplinados faz a tensão aumentar. Para os motoqueiros, a baixa
remuneração faz o seu ritmo disparar.
Isso não é justo para ninguém.
A motocicleta é o veículo de maior
propensão a acidentes, que, além da
dor e do sofrimento para os condutores e para as vítimas, geram um custo
da ordem de R$ 5,3 bilhões por ano segundo estudo recente. Nessa cifra, são
computados danos aos veículos, assistência médico-hospitalar aos acidentados, processos judiciais, verbas previdenciárias, perda de dias de trabalho
e outras despesas. O que mais impressiona é saber que as motocicletas são
responsáveis por quase 20% desses
custos -R$ 1 bilhão!- (Ipea, "Impactos Sociais e Econômicos dos Acidentes de Trânsito", Brasília, 2003).
Tudo indica que a frota de motocicletas vá aumentar ainda mais. É a
inércia do crescimento de um tipo de
veículo em uma cidade que não tem
espaço.
Isso não significa, porém, que as autoridades continuem inertes em relação ao problema. Nos países mais
avançados, a ocorrência de mortes em
acidentes de trânsito é infinitamente
menor do que no Brasil. No Japão, por
exemplo, morrem anualmente 1,32
pessoas por 10 mil veículos em circulação; na Alemanha, 1,46; nos Estados
Unidos, 1,93. Pois bem, no Brasil, 6,8
pessoas são vítimas de fatalidades,
sendo que a maior incidência ocorre
com as motocicletas. É uma calamidade!
As autoridades municipais, estaduais e federais terão de tomar medidas urgentes para coibir a indisciplina
que toma conta do trânsito de São
Paulo e de outras capitais.
Além de uma forte atuação educativa com os motociclistas, impõem-se
outras medidas de controle. Por que
não se instalar radares especializados
para flagrar os infratores? Por que não
reforçar o policiamento para exigir
que os motociclistas respeitem o Código do Trânsito? E por que não melhorar a remuneração dos motociclistas para poder exigir deles uma conduta mais pausada e mais segura para
o benefício de todos?
O problema está instalado. Todos
merecem respeito e proteção. A começar pelos próprios motociclistas. É
preciso agir de forma humana e inteligente.
Antônio Ermírio de Moraes escreve aos domingos nesta coluna.
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