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CARLOS HEITOR CONY
A fome e os fominhas
RIO DE JANEIRO - Pior do que a turma do contra, que sempre está descontente com o rumo dos governos e
só enxerga o lado sombrio da sociedade, é o pessoal que está permanentemente a favor de tudo o que o seu
mestre mandar -seja lá que mestre
for e seja qual for a coisa mandada.
Para uma equipe nova, como a
atual, que está começando o seu sexto mês de administração, é injusto
cobrar tudo de uma vez. E mais injusto ainda é negar o crédito de confiança que o povo nela depositou. Até
aí, tudo bem.
Contudo esse Fome Zero começa a
ser defendido com unhas e dentes pelos eternos panfletários a favor do poder, que se esbofam para provar que
o programa em curso nada mais é do
que uma espécie de maravilha curativa, uma dessas pomadas que curam
desde uma unha encravada a um
câncer no esôfago.
É bem verdade que a maioria das
críticas ao maravilhoso programa
são pontuais, cobrando cadastros, resultados instantâneos e definitivos,
coisas assim.
É evidente que esses problemas poderão ser sanados aos poucos, com
trabalho, vigilância, vontade de acertar. Não é por aí que, desde que foi
anunciado, venho criticando o Fome
Zero. Dou de barato que a maioria
das dificuldades de sua instalação
pode ser enfrentada e vencida.
Minha crítica ao Fome Zero é estrutural: compete ao governo criar condições de desenvolvimento social e
econômico que traga, como subproduto, a fome zero.
Se o marketing, o tempo e o dinheiro que estão gastando com o mutirão
assistencialista -contra o qual, ninguém de bom senso pode ser contra-, se toda a soma de energia e de
recursos fosse canalizada para a reforma agrária de verdade, para a
criação de empregos e para a melhoria salarial da população, teríamos,
aí sim, uma ação de governo que colocaria o país no caminho economicamente correto e socialmente justo.
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