|
Próximo Texto | Índice
A VENEZUELA DECIDE
Cerca de 14 milhões de venezuelanos estão habilitados para
votar hoje no plebiscito que vai decidir o destino do presidente Hugo
Chávez. Se a oposição conseguir reunir mais de 3,8 milhões de escrutínios, Chávez deverá deixar o posto, e
um novo pleito será convocado para
escolher quem concluirá o restante
de seu mandato, previsto para acabar
em janeiro de 2007.
Embora o quadro esteja indefinido,
a evolução das pesquisas de intenção
de voto sugere que Chávez tem boas
chances de conservar-se no poder.
Ajudam-no a recuperação da economia, a alta dos preços do petróleo e
programas assistencialistas voltados
para a população pobre, que constitui sua base de sustentação.
Até aqui, a campanha plebiscitária
transcorreu -felizmente- sem episódios mais significativos de violência, o que não é pouco considerando
o ambiente de extrema polarização
que envolve o país. O radicalismo de
parte a parte é tamanho que há dúvidas quanto à capacidade da consulta
popular de serenar os ânimos.
Com efeito, uma eventual vitória de
Chávez pode não dissuadir setores
da oposição da idéia de depô-lo por
outros meios, a exemplo do golpe
que foi tentado em abril de 2002. Se a
manutenção do mandatário se der
por estreita margem, não faltarão
acusações de fraude e manipulação.
Na hipótese inversa, que é a de
Chávez sair derrotado no referendo,
nada indica que ele desistirá de conservar-se no poder. Em princípio,
não existem leis que o impeçam de
participar do pleito que designará
seu substituto. Como é pouco provável que os vários grupos que formam
o principal bloco de oposição se
mantenham unidos a ponto de lançar candidato único, não é irrealista
um cenário no qual Chávez vença a
disputa à sua própria sucessão, o que
quase certamente levaria à continuidade da atual crise política.
Existem prognósticos mais sombrios, no qual as forças em disputa se
enfrentariam nas ruas, podendo deflagrar uma guerra civil. Espera-se
que o bom senso prevaleça e essa hipótese extrema não ocorra.
A escolha que os venezuelanos têm
diante de si não é das mais salubres.
Chávez pode ser descrito como um
carismático líder populista e personalista com pendores autoritários e
infantilmente esquerdistas, além de
francamente incompetente para
conduzir a economia do país. Em
1992, quando era tenente-coronel
dos pára-quedistas, tentou um golpe
contra o governo democrático, pelo
que foi preso e, depois, anistiado. É
verdade, porém, que, uma vez eleito,
não rompeu nenhum limite institucional, embora se tenha utilizado de
recursos condenáveis, como a ampliação do Supremo Tribunal de Justiça, em benefício próprio.
Da oposição não se pode traçar um
perfil edificante: um amálgama de
grupos cujo único interesse comum
é derrubar Chávez já atentou contra a
democracia quando pretendeu remover o presidente por meio de um
golpe de Estado em 2002, felizmente
revertido. Os oposicionistas tampouco demonstraram grande senso
político quando, de dezembro de
2002 a fevereiro de 2003, comandaram uma greve geral que prejudicou
fortemente a economia do país.
Espera-se que ambos os lados, depois de tantos confrontos, saibam
agir com serenidade e acatem de maneira madura o resultado das urnas.
Que os vencedores entendam que o
país precisa revigorar seus espaços
de mediação política e, a despeito
das divergências, se unir em torno de
compromissos democráticos. Uma
Venezuela cindida, sem canais de comunicação e resolução de conflitos
políticos, não interessa nem aos venezuelanos nem ao continente.
Próximo Texto: Editoriais: DOPING OLÍMPICO
Índice
|