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ELIANE CANTANHÊDE
Beira-Mar, o sucesso
BRASÍLIA - Quem tem medo de Fernandinho Beira-Mar?
Eu, tu, ele, nós e, principalmente,
eles: os candidatos. Se Benedita morre de medo, Lula igualmente. Se FHC
também teme, Serra igualmente. E
Garotinho tenta jogar para eles justamente para fingir que não teme, como se fosse possível.
Todos temem o efeito da matança
de Bangu 1 nas próprias campanhas,
porque a culpa pela guerra que grassa no Rio, e não só no Rio, é de todos.
O único que não precisa recear o efeito eleitoral direto da rebelião comandada por Beira-Mar é Ciro Gomes.
Mas nem isso ele soube capitalizar.
Em vez de discutir no seu programa
eleitoral a violência, o desmando e o
Estado paralelo que, no mínimo,
constrangem seus adversários, o candidato da Frente Trabalhista preferiu
entrar numa seara delicada: a doença de Patrícia Pillar.
Campanhas político-eleitorais são
propícias ao vale-tudo, mas essa de
Ciro foi abaixo de qualquer crítica.
Na defensiva, meio sem graça, tratando de um tema tão pessoal num
horário tão coletivo, ele deixou a sensação de juntar a própria verborragia com a falta de rumo de sua assessoria. A super-Patrícia tem força e carisma, talvez seja a melhor imagem
da campanha. Não merece isso. Nem
os eleitores.
Mas voltando ao Beira-Mar: na falta de saídas viáveis para a escalada
da violência e para a desfaçatez com
que os bandidos acuam autoridades
e controlam Estados, os candidatos
discutem quem tem mais a perder
eleitoralmente com a tragédia urbana e com as cenas do maior bandido
vivo, risonho e satisfeito após de matar os rivais sob as barbas públicas.
Na verdade, quem mais deve temer
o Beira-Mar, esteja ele no Rio, em
Brasília ou em qualquer cidade brasileira, não é a Benedita, o Lula, o
FHC, o Serra, o Garotinho e muito
menos o Ciro. É você. Ele é capaz de
tudo, e o Estado brasileiro não é capaz de nada contra ele. O que sugere
que a fórmula deu certo e pode se
multiplicar por mil e um Fernandinhos Beira-Mar por aí.
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