|
Próximo Texto | Índice
MALES DO MODELO
Duas notícias recentes suscitam preocupação no que concerne aos efeitos e aos rumos da política econômica brasileira.
A primeira ilustra certos efeitos
perversos da política econômica implementada no segundo mandato de
FHC. Segundo a pesquisa relativa às
Contas Nacionais divulgada pelo IBGE na quarta-feira passada, entre
1999 e 2001 a poupança das famílias
sofreu erosão expressiva: caiu de R$
79,3 bilhões para R$ 56,7 bilhões. Essa queima de quase 30%, em apenas
dois anos, foi a maneira que as famílias encontraram para sustentar seus
gastos diante da queda de sua renda.
Em paralelo, a mesma pesquisa
apurou que a poupança dos bancos
cresceu de R$ 6,8 bilhões para R$
20,5 bilhões -ou seja, triplicou,
também no curto intervalo de dois
anos. As razões da alta foram, entre
outras, os juros altos e o aumento do
"spread" bancário (ou seja, da diferença entre o custo de captação de recursos pelos bancos e o custo dos
créditos que ofertam).
A outra notícia preocupante foi a
aprovação de uma série de medidas
que aumentaram ainda mais a carga
tributária, que já se situa em nível recorde. Foram prorrogadas as alíquotas atuais da Contribuição Social sobre o Lucro Líquido e do Imposto de
Renda da Pessoa Física, que se previa
que seriam reduzidas, e foi ampliado, de R$ 0,50 para R$ 0,86 por litro
de gasolina o teto de cobrança da
Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico.
A justificativa para a nova investida
sobre o bolso dos contribuintes foi a
mesma tantas vezes repetida nos últimos anos: a necessidade de reforçar a arrecadação para cumprir a meta de superávit primário.
Não há dúvida de que o cumprimento dessa meta é crucial: disso depende a obtenção de novos créditos
do FMI. E estes créditos, em vista do
prolongado fechamento do crédito
externo privado, continuam imprescindíveis para que o país possa pagar
seus compromissos externos.
São compreensíveis, portanto, as
razões que levaram a base aliada do
futuro governo a apoiar os aumentos
de impostos. Mas é incômodo constatar que, sob a pressão dos constrangimentos imediatos, a política
econômica continua, na prática, presa ao modelo do governo FHC. Modelo que, por produzir resultados como os retratados pela pesquisa do
IBGE, foi criticado por todos os principais candidatos à Presidência.
A conjuntura econômica delicada
exige cuidados. Mas o futuro governo não deveria, em nome desses cuidados, deixar de lado o compromisso, assumido na campanha eleitoral,
de introduzir modificações no modelo de política econômica.
É preciso alertar, preventivamente,
que seria indesejável deixar em compasso de espera, por força das restrições fiscais, a agenda de políticas públicas com horizonte de médio e longo prazo. A sociedade espera do futuro governo soluções criativas para
que as políticas voltadas à melhoria
da infra-estrutura, ao estímulo ao investimento e ao fomento das exportações efetivamente venham a sair do
papel -viabilizando redução sustentada da vulnerabilidade das contas externas e da taxa de juros.
Próximo Texto: Editoriais: A QUESTÃO DO JÚRI
Índice
|