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ANTÔNIO ERMÍRIO DE MORAES
A incompreensão americana
Desde março de 2002, o governo
dos Estados Unidos restringiu a
importação de aço de vários países
(inclusive o Brasil) através da elevação
de cotas e de tarifas aduaneiras. Nem
assim os produtores americanos ficaram satisfeitos.
No relatório do setor siderúrgico
deste final de ano, o "American Iron
and Steel Institute" sai com o seguinte
disparate: "As medidas tomadas pelo
presidente George W. Bush não foram
suficientes. Cotas e tarifas não conseguiram espantar as importações, que,
em 2002, foram mais altas do que em
2001. A crise do aço dos Estados Unidos só será resolvida pela eliminação
do excesso de oferta do produto no
resto do mundo" ("Perspective: American Steel & Domestic Manufacturing", AISI, Washington, 2002).
Essa é uma posição absurda para
quem diz ser favorável a um comércio
internacional praticado com lealdade.
O instituto afirma que as siderúrgicas
americanas são as mais eficientes do
planeta, produzem o melhor aço do
mercado e têm o menor custo de produção.
Para medir eficiência, o instituto
gosta de usar a medida de eficiência
do trabalho (toneladas produzidas pela força de trabalho). Para começar,
essa não é a única medida de eficiência. Mesmo assim, as empresas americanas estão praticamente empatadas
com empresas de outras 17 nações,
uma das quais é o Brasil.
A posição brasileira foi alcançada
depois de muito esforço e de muito talento dos produtores e de muito empenho dos trabalhadores brasileiros.
O Brasil possui fatores que lhe dão
uma vantagem intrínseca (matérias-primas), que, por sua vez, foi fortalecida com a melhoria da gestão e das tecnologias.
Cerca de 80% das aciarias brasileiras
usam o processo de oxigênio, e apenas
20%, o processo elétrico, o que permite uma produção altamente competitiva. No processo de lingotamento
(fundição), cerca de 95% da produção
brasileira é feita através do processo
contínuo e apenas 5% pelo antigo processo de lingotamento individual.
Aqui também os ganhos de produtividade do Brasil são enormes.
É esse o país que os americanos querem eliminar do mercado siderúrgico?
Com base em que argumentos?
No fundo eles não têm argumentos
-nem muito menos razão- para
perseguir um país como o Brasil, que
se dedica a aperfeiçoar processos, a reduzir custos, a melhorar a qualidade e
a prover cerca de 65 mil empregos diretos, que, na siderurgia, mantêm centenas de milhares de empregos indiretos.
Na ausência de motivos, os americanos levaram a Organização Mundial
do Comércio a rever decisão anterior
que considerou o Brasil como um
"player" leal no comércio do aço. A revisão será feita com base em supostas
ajudas governamentais que as siderúrgicas privatizadas estariam recebendo do governo brasileiro. Se a tese
vingar, as ex-estatais serão supertaxadas, e os americanos estarão pondo
em prática o seu plano de aniquilamento das siderúrgicas do mundo. Isso não pode acontecer. O governo tem
de jogar duro na OMC.
Antônio Ermírio de Moraes escreve aos domingos nesta coluna.
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