|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
GABRIELA WOLTHERS
Um lapso de três anos
RIO DE JANEIRO - "A Polícia Federal prendeu há uma semana, em Goiás,
Leonardo Dias Mendonça, apontado
como líder de uma organização que
atuava no tráfico internacional de
cocaína."
"A Polícia Federal prendeu ontem
22 pessoas acusadas de envolvimento
em uma das maiores organizações
criminosas do país, que atuava no
tráfico internacional de drogas.
Apontado pela PF como um dos principais chefes da quadrilha, o empresário Leonardo Dias Mendonça foi
preso em Goiás."
Os textos acima trazem praticamente as mesmas informações. O
personagem é o mesmo, o ato -de
prisão- é o mesmo e até o local onde
Mendonça foi preso é o mesmo. A diferença não está no conteúdo, mas na
data em que eles foram publicados. O
primeiro texto foi impresso na Folha
no dia 28 de novembro de 1999. O segundo é da última terça-feira. Três
anos os separam.
Pelo menos desde 99 Mendonça é
considerado pela Polícia Federal um
dos principais nomes do crime organizado no Brasil -do tráfico de drogas com conexões internacionais. O
que aconteceu durante esse período
além de Mendonça ter aumentado o
seu poderio?
O enredo é de novela mexicana:
Mendonça é preso em 1999, mas obtém a liberdade em outubro de 2000
por decisão do Superior Tribunal de
Justiça. No mesmo mês, a Justiça de
Mato Grosso decreta nova prisão. Em
março de 2001, o Tribunal Regional
Federal concede habeas corpus. Em
outubro de 2001, a Justiça do Maranhão manda prendê-lo. Novo habeas
corpus do Tribunal Regional Federal
em janeiro deste ano. Em dezembro,
a Justiça de Goiás decide que ele deve
voltar à prisão.
A novidade entre a prisão de 99 e a
última é que as investigações mostram agora indícios de envolvimento
de membros do alto escalão do Judiciário com o traficante. O Judiciário
mostra estar dividido -o mesmo poder manda prender e manda soltar.
Resta esperar o capítulo final desse
folhetim para saber quem vai ganhar
essa guerra. A justiça já perdeu.
Texto Anterior: Brasília - Eliane Cantanhêde: Chama o PT, mas que PT? Próximo Texto: Antônio Ermírio de Moraes: A incompreensão americana Índice
|