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ELIANE CANTANHÊDE
Chama o PT, mas que PT?
BRASÍLIA - O PT que está no governo é José Dirceu e Antonio Palocci, mas
também Henrique Meirelles, Roberto
Rodrigues e Luiz Furlan.
Já o PT do Congresso é um pouco
diferente. Só no Senado, Heloísa Helena, Serys, Ana Júlia, Fátima Cleide
e Ideli Salvatti, gente do barulho. Moderada, havia Marina Silva. Mas esta
também vai para o governo.
FHC costumava dizer algo como
"se faz, criticam; se não faz, também
criticam". Isso cabe perfeitamente na
montagem do governo Lula.
Se o presidente eleito fizesse um governo bem petista, iria apanhar feito
condenado do tal mercado, dos conservadores e dos governistas que
saem. E a macroeconomia?
Se faz um governo eclético, com um
ex-executivo do BankBoston, um
presidente da federação de agrobusiness e um megaempresário, apanha
do outro lado. E o purismo?
Mas o inverso também é verdadeiro: no início, faça o que fizer, presidente nenhum apanha. Lula foi pouco criticado por escolher Henrique
Meirelles, por exemplo. Ele é homem
do sistema financeiro -e do sistema
financeiro internacional, que o PT
sempre condenou.
Quando Armínio Fraga foi escolhido, a esquerda rejeitou duramente o
"homem do Soros". Quando Meirelles é indicado, só uma Heloísa Helena ou um Raul Pont gritam.
Lula segurou o coração do governo
para o PT, com Dirceu e Palocci, e
distribuiu o resto como podia. Ou seja, pragmaticamente. Porque, primeiro, o governo do PT precisa mostrar que é bonzinho; ampliou horizontes e tem apoio da direita. Segundo, porque sofre de falta de quadros.
O Banco Central existe, o mercado
existe, o mundo existe. Mas o PT fingia que não. Ninguém do mercado
virou petista, nenhum petista virou
homem de mercado, e eles nem se falam. Cinco recusaram o BC.
Essas fronteiras estão acabando.
Um médico vai mandar na economia e um "estrangeiro", nas finanças. O PT histórico é um, o PT no
Congresso é outro e o PT no governo
é um terceiro. Todos eles têm muito o
que aprender. E o país com eles.
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