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VOLUNTARISMO
O marcante voluntarismo da
administração George W.
Bush no campo diplomático e militar é amplamente reconhecido. Nas
últimas semanas, essa impetuosidade contribuiu decisivamente para
que, a partir da resistência às pretensões belicosas de Bush no Iraque, liderada por França, Alemanha e Rússia, se esboçasse uma séria crise do
sistema internacional.
A sensação de alarme foi generalizada nos meios políticos e econômicos internacionais. O "Financial Times", por exemplo, explicitou uma
preocupação corrente ao indagar se a
Otan (a aliança militar ocidental) estaria a ponto de dissolver-se. O diário
inglês, como muitos outros órgãos
de imprensa, acadêmicos e analistas,
questiona mesmo se a ordem global
pós-1945 como um todo -e em particular as Nações Unidas- não estaria em pleno processo de dissolução.
São dúvidas pertinentes, e sobretudo inquietantes, a respeito do futuro
do sistema internacional e do desenho geopolítico do globo. Mas o impacto do voluntarismo diplomático e
militar do governo Bush já cobra um
preço no presente ao prejudicar o desempenho da economia global.
Devido à iminência da guerra, que
se estende há semanas, a incerteza se
mantém muito acirrada. Com isso,
decisões de investir e de consumir
vão sendo postergadas, e a aversão
ao risco dos investidores se mantém
muito alta, inibindo a concessão de
crédito. Como consequência, o crescimento econômico, que já não era
robusto, perde ímpeto no mundo como um todo. Tanto que, conforme já
vazou na imprensa alemã, o FMI deve rebaixar novamente sua projeção
para o crescimento da economia
mundial em 2003 em seu relatório
semestral, a ser divulgado em abril.
Mas os prejuízos econômicos gerados pelo voluntarismo do governo
Bush poderão estender-se muito
além do horizonte de 2003. Cresce o
número de analistas que advertem
para as armadilhas que estão sendo
criadas pela política de agressivos
cortes de impostos e aumento de
gastos que vem sendo implementada pela administração Bush.
O economista norte-americano
Paul Krugman, por exemplo, alertou
que o governo Bush demonstra disposição de prosseguir em sua política fiscal muito agressiva independentemente do desenrolar da crise
no Iraque. A tendência de alta muito
rápida do déficit público norte-americano continuaria presente, portanto, mesmo que a guerra acabe por ser
vencida rapidamente pelos EUA.
Uma guerra breve em princípio
permitiria reduzir, a seguir, os gastos
relacionados ao esforço bélico. Mas
os aspectos mais preocupantes do
voluntarismo fiscal do governo Bush
dizem respeito não aos gastos, e sim
aos cortes de impostos. As reduções
adicionais de tributos que ele vem
propondo têm caráter permanente.
O alerta de Krugman é de que ao
longo dos próximos anos estarão
presentes pressões estruturais de aumento de gastos públicos nos EUA,
relacionadas ao envelhecimento da
população -o que tenderia a manter
em alta os gastos previdenciários e
com assistência médica. A combinação dessas pressões com a redução
permanente de impostos poderá
gestar uma séria crise fiscal nos EUA.
A resultante do voluntarismo fiscal
do governo Bush seria uma alta muito forte das taxas de juros norte-americanas. Pior para as perspectivas de
crescimento, a médio prazo, dos
EUA -e, por extensão, do conjunto
da economia mundial.
Assim como no campo diplomático e militar, também no campo econômico vai-se revelando necessário
encontrar meios para conter a excessiva impetuosidade do atual governo
norte-americano.
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