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ANTÔNIO ERMÍRIO DE MORAES
Oxalá seja um pesadelo!
O que está por trás da guerra
prometida para começar nas
próximas semanas? Muitas coisas.
Uma delas é a terrível escara que ainda não cicatrizou na alma de um povo
que foi atingido no seu sentimento de
orgulho e dignidade ao ver um grupo
de fanáticos usarem aviões americanos para destruírem os cultivados
símbolos de nação livre, forte e segura.
A outra é o medo generalizado que
tomou conta de uma população que
se vê indefesa diante dos sinais de alerta continuamente anunciados pelo
governo para dizer que a nação pode
ser atacada a qualquer momento
-sem maior explicação.
A última é a situação desesperadora
da maior economia do mundo diante
de um grave colapso que pode ocorrer, em poucos anos, por falta de energia, em especial de petróleo.
Os Estados Unidos estão numa encruzilhada. Entre 1970-1990, o consumo de petróleo aumentou 13%, e a
produção doméstica diminuiu 30%. O
país não tem petróleo suficiente para
sobreviver nos padrões atuais. Seus
poços são raquíticos quando comparados aos do Oriente. A média de produção dos 600 mil poços americanos é
de apenas 11 barris por dia, enquanto
na Arábia Saudita essa média ultrapassa os 9.000 barris por dia. É uma
diferença monumental (Robert A.
Ristinen e Jack J. Kraushaar, "Energy
and the environment", John Wiley &
Sons, New York, 1999).
Além disso, as reservas americanas
são diminutas, o que coloca os Estados Unidos dependentes de petróleo
importado por muitas décadas. Os
americanos estarão nas mãos dos produtores estrangeiros por muito tempo. O quadro abaixo dá uma idéia da
brutal diferença entre os países no que
tange às reservas de petróleo.
A dramaticidade da situação dos Estados Unidos só é superada pela da Inglaterra.
Os Estados Unidos sozinhos utilizam 32% da energia mundial, na
maioria combustíveis fósseis, que, por
sua vez, respondem por 85% da energia do planeta, recebendo para tal US$
120 bilhões de subsídio todos os anos.
O consumo diário de petróleo nos
Estados Unidos ultrapassa a casa dos
20 milhões de barris -dez vezes o
consumo no Brasil. O país tem um
PIB de mais de US$ 10 trilhões por
ano, e sua população se aproximam
da casa dos 300 milhões de habitantes.
A nação está sufocada diante de uma
restrição tão severa.
Quando se junta o constrangimento
energético com a desmoralização do
11 de setembro e com o desassossego
do povo que não pode viver em paz
em seu próprio país, é claro que a
guerra surge como uma alternativa
perversa.
Oxalá tudo isso seja um pesadelo, esperando que os líderes façam um esforço para readquirir o bom senso e
resolver esses problemas por meio do
entendimento, e não da destruição.
Antônio Ermírio de Moraes escreve aos domingos nesta coluna.
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