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CARLOS HEITOR CONY
A megera indomada
RIO DE JANEIRO - Dentre as numerosas coisas que não entendo, e cada
vez entendo menos de tudo, está a
geopolítica, no meu caso específico,
um pleonasmo, pois nada sei de política e de geografia.
Mesmo assim, diante do tabuleiro
armado para a guerra contra o Iraque, vejo que há uma megera indomada aproveitando a confusão para
lavar feridas e afrontas passadas. É
doloroso considerar a Inglaterra uma
megera. Não fosse a Inglaterra de
Churchill e o mundo seria outro, sob
o domínio nazista.
Mas o caráter insular da velha e
querida Inglaterra sempre que pode
dá um jeito de se destacar não apenas topograficamente do território
continental a que pertence mas dele
se afastar espiritualmente. Recusou-se a desvalorizar a libra, recusou-se a
integrar a Comunidade Européia.
De uma forma simples e até certo
ponto inesperada, três países-chaves
da Europa, com patrimônios históricos e culturais dos maiores da sociedade humana, França, Alemanha e
Rússia, invocam o bom senso e desaprovam a precipitação do apetite
norte-americano, que, mais ou cedo
mais tarde, após destruir o Iraque,
desarmar a Coréia do Norte e ocupar
o Afeganistão, países de segunda ou
terceira linha na economia mundial,
tentará engolir, um a um, ou todos de
uma só vez, os países europeus que
constituem o único bloco capaz de
desafiar o colosso do dólar.
Atrelando-se à hegemonia dos Estados Unidos e evitando engrossar a
Comunidade Européia, que tende a
ser o contraponto de um novo império mundial, a Inglaterra gostaria
que um formidável abalo sísmico
deslocasse a ilha da incômoda vizinhança da Europa continental que
ela considera decadente. E se anexasse, digamos, ao Alasca.
Um pensamento radical, sem dúvida arrogante e travesso, que faz lembrar uma das peças mais conhecidas
do maior poeta da Inglaterra.
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