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ELIANE CANTANHÊDE
Lula: sinal amarelo
BRASÍLIA - A era FHC foi marcada por uma declaração que ele, a bem
da verdade, sempre negou e considerou lenda: "Esqueçam o que escrevi".
A era Lula, tão no início, já tem
também sua marca clara e cada vez
mais disseminada pelo governo: "Esqueçam o que nós todos dissemos"
Ao contrário de FHC, ninguém desmente. Basta ver o líder do governo
no Senado, Aloizio Mercadante (PT-SP), que adora dizer que só não foi
ministro porque não quis. E ministro
da Fazenda! Disse Mercadante, em
bom e alto som, para uma ampla platéia e vários gravadores: "A oposição
não ajudou a aprovar as reformas e
errou. Se nosso discurso fosse bom,
não teríamos perdido duas eleições".
A "oposição", no caso, não é o
PSDB, o PFL, José Aníbal ou Jorge
Bornhausen. Era o PT, e um dos principais arautos dela era o próprio
Mercadante, hoje em fase de mea culpa enquanto o seu governo repete e
amplia os juros e os superávits primários altos de FHC, tropeça feio no
Fome Zero, o principal programa social, e encampa as reformas tucanas
como se petistas fossem. O aliado PPS
e agora a CUT reclamam do que já é
óbvio: a falta de um projeto.
Bem, taí a explicação mais simples
e direta para o resultado da última
pesquisa CNT/Sensus sobre a popularidade do novo governo. Lula vai
muito bem, obrigado, mas o governo
já começa a sentir o peso de ser governo, de ter responsabilidades, de conviver com um país dificílimo e com
problemas ancestrais.
O índice de "ótimo" e "bom" caiu
de 56,6% para 45%. É mais uma tendência do que realmente um dado
pronto e acabado, mas a coisa anda
ruim. Ou seja, é um sinal amarelo
piscando.
Se não há muito como mudar a
economia, Lula deveria dar prioridade mil aos programas sociais. Até
agora, há ministério e programa de
mais para senso prático de menos.
Para bloquear a tendência de queda das pesquisas, é justamente por aí
que Lula deve começar. Aliás, já deveria ter começado há muito tempo.
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