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CLÓVIS ROSSI
Os sem-projeto
SÃO PAULO - Minha sensação em relação ao PT era a de que, se a gente
passasse pela calçada (nem precisaria entrar) de qualquer diretório municipal, estadual ou nacional do partido, sairia com um pilha de folhetos,
documentos, projetos e propostas
contendo análises e soluções para todos os problemas do planeta.
Tenho muitos guardados até hoje,
pela simples e boa razão de que a maneira mais fácil de um colunista ganhar a vida é reproduzir o que dizem
ou escrevem os candidatos e comparar com aquilo que fazem ou dizem
depois de eleitos.
Por isso, achava que o partido, logo
no dia 2 de janeiro, passada a festa,
dispararia projetos para tudo quanto
é lado, apontaria soluções para todos
os problemas que ele próprio cansara
de analisar desde que nasceu, há 23
anos -e que, a bem da verdade, só
fizeram agravar-se desde então.
O máximo que poderia acontecer
seria receber críticas por estar tentando fazer as coisas erradas ou por contrariar interesses poderosos.
É bem provável que o presidente
Luiz Inácio Lula da Silva me inclua,
se lesse o que sai neste espaço, entre os
"apressadinhos" que criticou outro
dia, em mais um dia em que pediu
calma e paciência.
Agora pode incluir na lista o seu
próprio berço, o movimento sindical.
Afinal, a CUT, a central sindical ligada ao PT, diz que "até agora, podemos constatar a inexistência de um
projeto claro para estimular o debate
público sobre as diferentes reformas
tidas como prioritárias".
Afirma ainda que esse vazio causa
"tensão e descompasso". Nos e-mails
que recebo de petistas da base ou de
gente que, sem ser petista, desta vez
votou em Lula com grande esperança, há mais do que isso. Há angústia,
mal-estar, gosto amargo na boca.
É claro que é cedo para julgar o governo pelas suas ações. Mas não é cedo para julgar o partido pela "inexistência de um projeto claro". Afinal, já
são 23 anos de vida, o suficiente para
saber o que queria fazer quando crescesse. Cresceu. Sabe?
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