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É PRECISO CRESCER
A volatilidade dos mercados financeiros, motivada pela
perspectiva de elevação dos juros nos
EUA, alimenta dúvidas sobre a conveniência de o Banco Central promover, neste mês, novo corte na taxa básica. A subida do dólar, aliada a sinais de aumento de preços no atacado e à cotação recorde do petróleo,
fornece argumentos a favor de uma
posição mais cautelosa do Comitê de
Política Monetária (Copom), que decidirá na quarta-feira a taxa para as
próximas quatro semanas.
Ainda que esses fatores mereçam
atenção, parece prevalecer entre analistas de variadas tendências a avaliação de que, hoje, o risco de uma escalada inflacionária na economia brasileira é infinitamente menor do que
aquele representado pela manutenção de uma política de juros elevados, que resulta em desestímulo ao
crescimento e pressão sobre a dívida
pública -além de dificultar a redução dos altos índices de desemprego.
As autoridades econômicas brasileiras têm insistido, em sintonia com o
cânone econômico dominante, na
importância de reduzir a atual relação entre a dívida e o PIB, o que reforçaria, aos olhos dos mercados, a percepção de que o país é solvente. Se
esse objetivo for atingido, a tendência é o "prêmio" pago pelos títulos
brasileiros diminuir, o que facilitaria
a redução da taxa de juros.
O principal instrumento que vem
sendo utilizado pelo governo para
conquistar a confiança dos mercados é o cumprimento de metas fiscais. Em acordo com o FMI, o país
comprometeu-se a gerar superávits
primários em suas contas de 4,25%
do PIB ao ano. Todavia tamanho esforço, que produz efeitos colaterais
negativos sobre a capacidade de investimento do poder público em
áreas cruciais, como a infra-estrutura, não tem resultado no pretendido
declínio da relação dívida-PIB. Quanto a isso, os juros têm papel fundamental, pois taxas mais altas aumentam a dívida e dificultam o crescimento do PIB.
Não são novidade para os brasileiros situações em que as autoridades
repetem que os fundamentos econômicos são saudáveis, sem obter, no
entanto, o endosso dos mercados. Se
responsabilidade fiscal e inflação
bem comportada são fundamentais,
é preciso ver que, num país com as
carências e o grau de endividamento
do Brasil, o crescimento é fator essencial. Firmar a crença de que a economia irá crescer é fundamental para
estabelecer confiança.
Nesse sentido, um recuo do BC na
próxima reunião do Copom poderá
ter efeito bastante negativo sobre as
expectativas, pois sancionaria o pessimismo que vai rondando os mercados ao mesmo tempo em que abalaria as perspectivas de uma recuperação econômica mais robusta.
Os dados mais recentes da inflação
norte-americana sugerem que a elevação da taxa de juros naquele país
não será nem muito significativa
nem imediata. Seria lamentável se o
BC perdesse a oportunidade de novamente reduzir os juros, num momento em que tal decisão seria não
apenas possível como desejável.
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