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ANTÔNIO ERMÍRIO DE MORAES
Não à desordem
e ao retrocesso!
Já vai muito tempo em que, ainda
menino, via muito de realidade nos
sonhos de "Alice no País das Maravilhas". Sabia que a narração de Lewis
Caroll era pura fantasia. Mas gostava
da idéia de ver uma garota entrando
pela toca de um coelho, saindo num
túnel, voando para todas as partes e
fazendo-se minúscula e gigante diante
de cada realidade. Para ser franco, a
parte que menos apreciava era o acordar da mágica menina e o constatar
que o mundo dos mortais está longe
dos sonhos curiosos que ela vivia
quando dormia, mas que tem a sua
própria ordem e modo de ser.
Ao olhar para os acontecimentos de
hoje, vêm-me à mente a beleza de um
mundo ordeiro e o prazer de ser livre.
O homem moderno conseguiu proezas com as quais Alice jamais sonhou
-foi à Lua e chegou a Marte-, mas
não conseguiu administrar seu egoísmo nem respeitar o próximo. É verdade que guerra é sempre motivo de
abusos e de humilhação. Mas jamais
poderíamos supor que, em pleno século 21, soldados viessem tratar soldados como se animais fossem. É uma
péssima lição para os jovens que, dentro em breve, estarão dirigindo a sociedade moderna.
A conduta dos seres humanos depende basicamente dos exemplos de
seus pais, professores e governantes.
Quando estes não respeitam os seus
semelhantes, eles perdem a moral de
pedir que seus filhos venham a respeitá-los. Nessa hora, tudo se confunde e
instala-se o predatório clima do "salve-se quem puder".
Internamente, estamos vivendo o
mesmo problema. Com raras exceções, nossos governantes não estão se
empenhando para fazer os brasileiros
viverem como cidadãos, cumprindo
com suas obrigações e fazendo-os entender que a cada direito corresponde
um dever.
Quando os governantes são lenientes com o desrespeito ao direito de
propriedade e até o estimulam, é o começo do fim. Daí para a frente, surge o
chamado estado de "anomia", no qual
ninguém sabe qual é a norma certa.
É uma pena. Não esperava chegar
aos 76 anos para ver a inversão dos valores básicos da nação brasileira. Estavam certos Teixeira Mendes, Miguel
Lemos e Décio Villares quando, em
1889, executaram o projeto da bandeira nacional, nela inserindo, de forma
muito clara, a idéia de que, sem ordem, não há progresso.
Os tumultos atuais, generalizados
no campo e nas cidades, de norte a sul
do território nacional, estão levando-nos à estagnação. Invertemos a lição
da bandeira. Precisamos, mais do que
nunca, combater com todas as nossas
forças a desordem e o retrocesso.
Nunca foi tão importante a ação articulada entre os poderes da democracia -o Legislativo para fazer as regras, o Executivo para implementá-las
e o Judiciário para preservá-las.
É verdade que a volatilidade da economia globalizada nos afeta muito.
Mas, somadas ao desrespeito interno,
as incertezas externas nos conduzem a
um beco sem saída. Isso não pode
acontecer, pois temos como responsabilidade cuidar adequadamente dos
180 milhões de irmãos. Que os poderes públicos venham a agir prontamente para que a esperança volte a
brilhar. O Brasil não pode ser derrotado pelos fora-da-lei!
Antônio Ermírio de Moraes escreve aos domingos nesta coluna.
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