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ELIANE CANTANHÊDE
Ordem unida
BRASÍLIA - Parece incongruência, mas o pior problema de Lula foi a
disparada nas pesquisas, a percepção
de que é imbatível no primeiro turno
e mais forte do que todos os demais
nas projeções do segundo.
Desde então, o mundo (quase literalmente) começou a cair na cabeça e
na campanha de Lula. George Soros
foi apenas o maior petardo, mas não
o único. A divindade mercado, que
Soros personifica como ninguém, exige de Lula e do PT o que eles não podem dar: a garantia de que nada vá
mudar. Se nada muda, por que votar
em Lula e não em José Serra, por
exemplo?
O dilema da mais forte campanha
de oposição é que ela caiu numa armadilha. Ou se rende para acalmar o
público externo e a economia, ou
mantém o discurso -por coerência e
para animar o eleitorado interno.
Investidores internacionais e especuladores brasileiros esperam que
Lula e o PT digam que vão honrar os
contratos, pagar as dívidas, manter o
arrocho fiscal, acolher todas as regras
já estabelecidas. O que, como dois
mais dois são quatro, significa manter a dramática dependência externa, principal causa da crise.
Acuados, sem saída, os petistas improvisam propostas, se contradizem,
passam a sensação de estarem batendo cabeça.
Ontem mesmo, enquanto o PSDB e
Serra vendiam uma imagem de força, numa convenção plasticamente
impecável, lia-se nos jornais que o PT
quer indicar logo o presidente do
Banco Central e, logo abaixo, que Lula não admite isso.
A culpa pode nem ser do partido e
do candidato, mas das circunstâncias
e de pressões ilegítimas do que o deputado José Genoino chama de "sistema", mas o fato é que a coisa não
anda bem.
Lula continua disparado na frente,
mas Serra parece crescer devagar e
sempre numa eleição que ainda tem
três meses e meio e a propaganda televisiva pela frente.
A campanha de Lula precisa rapidamente de um freio de arrumação.
Um freio, por exemplo, para o excesso
de gente falando pelo candidato. Cada um numa direção diferente.
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