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CLÓVIS ROSSI
O gerente e a emoção
BRASÍLIA - Sai o sociólogo, entra o gerente. Será um pouco essa a transição que se dará no Brasil na hipótese
de José Serra, ungido ontem como
candidato oficial do PSDB à Presidência da República, ganhar a eleição presidencial.
A equipe que está trabalhando nos
planos de governo recebeu a clara
orientação de, a cada projeto, definir
de onde virá o dinheiro e, em seguida, avaliar o impacto econômico e
social que terá no seu entorno.
Pela carência de recursos para investimentos, a palavra de ordem é foco. Investir naquilo que seja realmente prioritário e que produza o que os
técnicos chamam de "efeito estruturante", ou seja, que cause o máximo
possível de impacto ao mínimo custo
possível.
Exemplo concreto: o número de
mandados de prisão não cumpridos
no Brasil é de cerca de 300 mil. Desses, apenas 2.000 referem-se a criminosos realmente perigosos (os números podem não ser rigorosamente esses, mas a ordem de grandeza é).
Prender 300 mil pessoas é missão impossível. Prender 2.000 não só é factível como, ao menos em tese, reduz o
teor de violência de forma bastante
significativa.
Por falar em segurança pública, a
idéia é investir pesado em inteligência e em informação, tidas como pré-requisitos básicos para uma ação policial eficaz.
Menciono o exemplo porque parece
honesto. Não está sendo usado, ao
menos até agora, como arma de propaganda, não tomou ainda a forma
de promessa de campanha -das
quais aprendi a desconfiar.
A idéia de um gerente na Presidência da República combina à perfeição
com as características de Serra. O
diabo é que, para chegar a ela, será
preciso mais que projetos, focados ou
não, corretos ou não, mais que idéias,
brilhantes ou demagógicas.
Não há como eleger-se sem uma
dose de emoção mais ou menos forte.
Emoção é coisa que não parece combinar com Serra. Talvez um bom
marqueteiro, como Nizan Guanaes o
é, dê jeito. Se não, sobrará um gerente
frustrado.
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