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O MELHOR E O PIOR
Os analistas políticos discutem se a deterioração da situação econômica no Brasil beneficia os
candidatos da oposição, destacadamente Luiz Inácio Lula da Silva, ou o
concorrente do governo, o senador
José Serra. A mais sofisticada argumentação talvez seja a de que, se a
piora for moderada, sai ganhando a
oposição, mas, se for uma crise aguda, o governismo é beneficiado. No
primeiro caso, haveria um estímulo
natural à mudança; no segundo, prevaleceria o medo da mudança.
Esse diagnóstico parece ter repercutido na estratégia de comunicação
dos partidos. O "staff" de José Serra
retomou um mote que foi usado pela
então governadora Roseana Sarney e
tentou associar a hipotética vitória da
oposição ao risco de "argentinização" do Brasil. Já nas hostes petistas,
houve uma nítida preocupação de
aplacar -ou, ao menos, de não contribuir para incitar- o nervosismo
do mercado financeiro.
A crítica mais comum à insistência
no "quanto pior, melhor" tem sido a
de que, especialmente num momento propício a turbulências financeiras, ela jogaria contra os interesses
não do candidato A ou B, mas do
país. Há rumores de que o presidente
Fernando Henrique Cardoso, temeroso de que insistir na perspectiva do
caos contribuísse para gerar sérios
problemas para seu próprio governo, teria pedido à campanha de Serra
que mudasse de estratégia.
O cenário ideal de campanha seria
o de candidatos cuidando tão-somente de discutir propostas de gestão, formulando críticas às plataformas dos adversários e a políticas do
governo. Afinal, é possível argumentar que é do próprio interesse do candidato que postula seriamente um
cargo no Executivo que as condições
de governo estejam o mais possível
preservadas no início do mandato
seguinte. Desse ponto de vista, contribuir na campanha para deteriorá-las seria no mínimo imprudente.
Mas a lógica da política brasileira
não segue exatamente nessa trilha.
Especialmente num contexto marcado pela propaganda televisiva (propício a sugestionamentos emocionais), a realidade da disputa é diferente. Pintar o adversário como mensageiro da desgraça é algo disseminado na estratégia dos partidos.
Em 1994, o PT, que agora se diz vítima de "demonização" por parte dos
tucanos, tentou convencer o público
de que o Real tinha objetivos meramente eleitorais e que, tão logo garantida a vitória de FHC, acabaria o
seu poder de manter baixa a inflação.
FHC venceu, mas os preços não saíram do controle. Na eleição seguinte
foi a vez de FHC associar Lula ao risco de mudança na economia. O presidente foi reeleito, mas a mudança
na economia não foi evitada, o que
reverberou imediatamente na queda
de seu índice de popularidade.
É evidente que um dos papéis da
imprensa deve ser o de cobrar dos
candidatos elucidação de seus programas e de seus compromissos de
campanha, o que os editoriais desta
Folha sempre fizeram e continuarão
a fazer. Mas seria ingênuo deixar de
registrar que esse é um combate, na
maioria das vezes, inglório.
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