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História das trevas
Governo que se afirma paladino da República no caso Dantas é o mesmo que, em surdina, facilita e conduz fusão de teles
O EX-DEPUTADO Luiz
Eduardo Greenhalgh,
candidato do Planalto
na fatídica eleição de
Severino Cavalcanti na Câmara,
acaba de descer ao Hades do governo Lula. No mundo das sombras, o advogado vai ter com outras figuras que, como ele, já desfrutaram do prestígio presidencial, mas foram descartadas em
nome da preservação do poder.
Greenhalgh, contratado pelo
banqueiro Daniel Dantas, pediu
um favor ao companheiro Gilberto Carvalho, assessor do presidente da República. Segundo
Carvalho, o advogado mostrou-se preocupado com uma perseguição a um de seus clientes;
queria saber se o perseguidor,
que se dizia agente da Abin, pertencia mesmo ao quadro do Gabinete de Segurança Institucional, ligado à Presidência.
Na tentativa de evitar um seqüestro ou algo assim, Carvalho,
sempre de acordo com a sua versão, foi pedir explicações no GSI.
Confirmou para Greenhalgh que
se tratava de um araponga legítimo. Mais não disse, porém,
quando instado pelo advogado a
fornecer detalhes da investigação. O cliente em questão era
Humberto Braz, preso no domingo, que, segundo a PF, tentou
corromper os agentes responsáveis pela Operação Satiagraha
com US$ 1 milhão. O assessor de
Lula afirma que, à época do favor, não sabia nada sobre Braz.
O advogado Greenhalgh também bateu à porta da ministra da
Casa Civil, Dilma Rousseff. Foi
recebido quatro vezes desde
2007 -dois desses encontros
não constavam da agenda pública da ministra. A assessoria da
Casa Civil diz que, quando Greenhalgh tentou transmitir um recado de Dantas, foi logo interrompido por Rousseff, que lhe
recomendou que fosse tratar
desse tema privado com os sócios do banqueiro na telefonia.
Os fatos narrados assim, da
perspectiva do governo, pintam
Greenhalgh como um ardiloso
lobista a serviço de Dantas. Dilma Rousseff e Gilberto Carvalho
são os herdeiros de Catão na defesa do interesse dos cidadãos
contra a sanha dos saqueadores
da república. É enredo adequado
para histórias em quadrinhos,
mas inverossímil na vida real.
Em silêncio, afinal, se desenrola nos corredores do governo federal um dos maiores negócios
público-privados dos últimos
tempos, a compra da Brasil Telecom -da qual Dantas foi controlador- pela Oi. A sintonia escandalosa entre o interesse privado
e a ação do governo não poderia
ser maior. O Executivo, além de
controlar acionistas-chave para
o processo (fundos de pensão e
BNDES), vai subverter o modelo
de concorrência na telefonia para acomodar o fato consumado
empresarial.
O arremedo de prestação de
contas ensaiado por assessores
de Lula deveria ser substituído
pela atitude, esta sim republicana, de lançar luz sobre todos os
lances desse processo -quer sobre a atuação dos interesses de
Dantas no governo, quer sobre a
novela maior, a fusão das telefônicas. A história contada das trevas costuma reservar surpresas
desagradáveis aos governantes.
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