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IGOR GIELOW
A queda de Queiroz
BRASÍLIA - O afastamento do delegado Protógenes Queiroz do caso
Daniel Dantas, cujas circunstâncias
não estão claras ainda, está longe de
ser casual. A desculpa oficial de que
ele vai fazer um curso não cola, não
menos porque a possibilidade de
ele ser enquadrado devido ao seu
comportamento na condução do
caso já era amplamente discutida
em Brasília.
Queiroz cometeu diversos erros e
exageros. A leitura de seu caudaloso
relatório transparece o trabalho de
uma mente enevoada por um voluntarismo messiânico que fez lembrar os "bons tempos" do procurador Luiz Francisco de Souza
-aquele cruzado contra os excessos tucanos que, curiosamente,
amansou sob o governo Lula.
Não importa que ele não saiba escrever em português compreensível; assusta que ele acredite representar "o bem" em uma batalha. Isso é inaceitável na condução de
uma função de Estado. As decorrências legais são as conhecidas:
abusos e ilações paranóicas.
Mas não foi isso que derrubou
Queiroz. Imerso em seu personagem quixotesco, ele ignorou superiores, para dizer o mínimo. Fez a
investigação do jeito que achou melhor, e assim alienou o entorno policial de seus detalhes. De quebra,
não é da patota que manda na PF
hoje. Isso é fatal numa corporação
tão dada a controle e ao poder das
panelinhas.
Isso dito, a pergunta que resta
agora é outra. Seu afastamento irá
refrear as investigações sobre Daniel Dantas? A escandalosa tentativa de suborno de um delegado federal terá sua elucidação abafada? Toda a rede de influência do banqueiro em diversas esferas do poder
brasileiro, ainda que apenas arranhadas de forma pouco convincente no inquérito, deixará de ser alvo
de apuração?
A partir da resposta, saberemos a
real extensão do medo que Dantas
provoca no poder. A investigação
tem que continuar.
igielow@folhasp.com.br
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