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RUY CASTRO
Efemérides
RIO DE JANEIRO - Estou bem de
efemérides neste ano. Fui contemporâneo de tudo que está completando 50 ou 40 anos em 2008. Contemporâneo consciente, quero dizer -sabendo do que se tratava
quando estava acontecendo pela
primeira vez. O que não era nenhuma vantagem, porque eu já tinha 10
e 20 anos, respectivamente, e, com
essa idade, supõe-se que o sujeito
saiba o que vai pelo mundo -por
acaso, título de um cine-jornal da
época, filmado pelas Actualités
Françaises.
Lamento ter chegado tarde para
o nascimento do padre Antonio
Vieira há 400 anos e, muito mais,
para o desembarque da Corte portuguesa na praça 15, há 200, com o
fuzuê subseqüente: criação da imprensa nacional, do Jardim Botânico, do Banco do Brasil -imagino o
Rio fervendo por aqueles dias. Da
mesma forma, ainda não estava no
pedaço quando Machado de Assis e
Arthur Azevedo morreram em
1908, mesmo ano em que nasceram
Guimarães Rosa e Mario Filho.
Desses centenários, o de Mario Filho passou em branco e ainda não
se ouvem os foguetes pelo de Arthur Azevedo em outubro.
Em compensação, acompanhei a
Copa de 1958 como acompanho o
atual campeonato brasileiro, ouvi
bossa nova quase desde o dia em
que João Gilberto gravou "Chega de
Saudade" e não demorei a saber que
na França surgira um negócio chamado Nouvelle Vague, cujos filmes
eu ainda não teria idade para assistir. Todos esses highlights da história estão fazendo 50 anos.
E, em 1968, ninguém me segurava em casa. Ainda mais porque, no
Rio, 1968 já tinha começado em
1967, com passeatas, bombas e correrias estudantis pela avenida Rio
Branco. Como éramos todos incuravelmente jovens, ninguém pensava que, um dia, iríamos celebrar os
40 anos daquele tempo entre um
exame de próstata e um comprimido para o colesterol.
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