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ANTONIO DELFIM NETTO
A safra e
os preços
CERCA DE 2/3 do aumento da
taxa de inflação deve-se à elevação dos preços dos alimentos e da energia, impulsionados por
desequilíbrios no mercado internacional. Somos hoje uma economia "aberta" e nossos produtores e
consumidores podem exportar ou
importar livremente seus produtos.
Essa integração com a economia
mundial foi extremamente benéfica: aumentou as oportunidades de
comércio e a produtividade, fatores indispensáveis para a aceleração do desenvolvimento econômico. Ela, entretanto, tem uma contrapartida. Nossos preços internos
passaram a depender muito pouco
da oferta e demanda internas. Os
preços da soja, do milho, do trigo,
do arroz, por exemplo, são "formados" no mercado internacional
desses produtos em função das demandas e ofertas "globais" e são internalizados através da nossa taxa
cambial. Por outro lado, a livre movimentação dos produtos exportáveis e importáveis e seus preços internacionais (que são dados) são
fatores importantes na determinação da própria taxa de câmbio, o
que consagra a integração da economia brasileira à economia internacional.
Neste mês de julho praticamente
encerrou-se o ano agrícola de
2007/08, com resultados muito satisfatórios: tivemos um aumento
da safra de grãos de 8,1% (de 131,8
para 142,2 milhões de toneladas),
com um aumento da área plantada
de apenas 2,1% (de 46,2 para 47,2
milhões de hectares). O crescimento médio da produção/ha de 5,9%
(2.851 para 3019 kg/ha) revela não
apenas a mudança estrutural, mas
também o uso de técnicas e insumos modernos. Apesar disso não se
deve esperar efeito de grande monta sobre os preços internos, a não
ser que recuem os preços externos
e não aumente a já desastrosa "super" valorização cambial.
Talvez haja efeito no preço do
feijão, importante produto da dieta
do brasileiro, porque ele não tem
um mercado internacional organizado. Na primeira safra (colhida
em janeiro e fevereiro), a produção
de feijão foi um desastre (queda de
20%, como resposta aos preços
baixos da safra anterior e a efeitos
climáticos), o que produziu um aumento espetacular de seus preços.
Na produção total (três safras), o
feijão registra um aumento de
2,3%, a menor taxa entre os grãos.
Uma forma eficaz de ajudar no
combate à inflação é estimular a
produção dos alimentos cujos preços dependem da oferta e procura
internas, como é o caso do feijão,
do peixe, do tomate e das hortaliças, por exemplo, mas parece que
ainda não acordamos para isso...
contatodelfimnetto@uol.com.br
ANTONIO DELFIM NETTO escreve às quartas-feiras
nesta coluna.
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