|
Próximo Texto | Índice
SETE MESES
Em pronunciamento ao país,
na última quinta-feira, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva apresentou sua avaliação dos sete meses
do novo governo. A seu favor, evocou
principalmente a aprovação em primeiro turno da reforma da Previdência, a queda do risco-país e da inflação e o início da redução dos juros,
afiançando que o "pior já passou".
Não há dúvida de que a aprovação
das mudanças na Previdência, após
duras negociações, com concessões
nem sempre positivas, foi um tento
do Planalto. A reforma, encalacrada
havia anos, era uma das oferendas
prometidas aos mercados como prova da conversão do PT a valores confiáveis. O texto, embora possa pedir
ajustes futuros, sinaliza maior solvência do Estado e confere mais racionalidade ao sistema. Diferentemente de outros países emergentes,
não se sancionou a privatização "selvagem" da Previdência -nem se
adiou novamente o problema.
Quanto às mencionadas conquistas na economia, o governo, como se
sabe, fez uma opção inicial que parece ir orientando de maneira irreversível sua atuação nessa área. Compelido a enfrentar um forte processo inflacionário e de corrosão da confiança no país, o Planalto decidiu-se pela
estratégia do "choque de credibilidade", adotando uma por uma, com revigorado ímpeto conservador, as receitas prescritas pelo cânone econômico tradicional.
Com a diferença de que a economia
pôde aproveitar-se da desvalorização
cambial para melhorar significativamente a geração de saldos comerciais, as eventuais virtudes e os evidentes riscos do modelo vigente permanecem essencialmente os mesmos dos anos anteriores.
Em meio à recessão industrial e elevado desemprego, Lula prometeu na
TV o que parece óbvio: bastante
ruins, as coisas irão melhorar. A
questão é saber em que proporção, a
que ritmo e com que qualidade a melhora poderá ocorrer. As restrições
ao investimento são inquietantes, e a
vulnerabilidade externa da economia
persiste num cenário de baixas reservas do Banco Central, de reduzido
fluxo de capital externo, de potencial
volatilidade do câmbio e de incertezas internacionais -situação que
muito provavelmente levará o petismo a romper mais um de seus tabus
e renovar o acordo com o FMI.
Certamente, como disse o presidente, não há mágica a fazer. Há, no
entanto, um país a governar, que está
a exigir melhor coordenação, eficiência e coragem na adoção de medidas para reposicionar a economia e
avançar na área social, certamente a
que deveria ter sido contemplada
com a vitalidade e o arrojo exibidos
pelo PT quando na oposição.
No tocante às tensões sociais, o
presidente ofereceu à sociedade algo
que ela parece ainda não ter adquirido: a segurança de que o poder público arbitrará os conflitos no campo
de acordo com a lei. A reforma agrária precisa ser realizada, como prometido, de modo pacífico e com a celeridade cobrada da gestão anterior.
O ambiente, porém, permanece turvo, como atesta o recente comentário
do presidente do Supremo Tribunal
Federal, Maurício Corrêa, sobre a
"leniência" com invasões.
Se, em sete meses, Lula tem fatos
positivos a mostrar, são evidentes as
decepções e os erros a corrigir. Os futuros desafios são de vulto e pedem a
elevação do padrão até aqui demonstrado pelo novo governo. O tempo
ainda dirá se o PT está à altura das
promessas que fez.
Próximo Texto: Editoriais: CIÊNCIA E ARTE Índice
|