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ANTÔNIO ERMÍRIO DE MORAES
Juros extorsivos. Economia ladeira abaixo
Em artigo recente nesta coluna
("Viva a especulação", 19/9), mostrei-me indignado com os cumprimentos que as autoridades monetárias receberam das agências internacionais de classificação de risco por ter
o Banco Central do Brasil elevado a taxa de juros em 0,25 ponto percentual.
Indaguei por que o nosso país continuava recebendo tão poucos investimentos diretos para gerar empregos
se tudo estaria correndo às mil maravilhas.
Na época, ninguém se dispôs a responder. A resposta veio na semana
passada. Os jornais noticiaram que
uma consultoria de Londres (A. T.
Kearney), analisando os dados da
nossa economia, resolveu rebaixar a
posição do Brasil da 9ª para a 17ª em
matéria de atratividade de investimentos diretos.
Está aí o troco. Os mesmos que
aplaudem o bom comportamento nos
pagamentos de juros colocam o Brasil
entre as nações do mais alto risco para
investimentos voltados para empregos e divisas. É uma grande ironia.
Na lista dos considerados bons países, a China é a preferida. Os Estados
Unidos vêm em segundo lugar, e a Índia, em terceiro.
A boa classificação da China decorre
da enormidade de seu mercado consumidor, de sua grande capacidade
exportadora e das políticas governamentais de atração de capitais produtivos. Se considerarmos apenas os investimentos na indústria, a Índia salta
para o segundo lugar, devido principalmente à sua capacidade de atrair
empresas prestadoras de serviços de
baixa, média e alta qualificação, aproveitando-se do bom nível de educação
da população e dos baixos salários em
nichos estratégicos.
Por que o Brasil caiu tanto? O que se
alega é a incerteza quanto à política de
regulação dos investimentos, em especial da infra-estrutura. A obscuridade das regras nos campos de saneamento, energia, estradas e telecomunicações seria a responsável pela forte
elevação do risco Brasil.
Não se pode negar que isso pesa.
Não se deve ignorar, porém, que os investidores nacionais continuam tocando suas atividades dentro dessas
circunstâncias, confiando na enormidade do mercado consumidor brasileiro, nas infinitas potencialidades de
energia limpa deste país e na capacidade produtiva dos brasileiros. Será
que isso não toca os investidores estrangeiros?
Na luta pela regulamentação adequada, os investidores (nacionais ou
estrangeiros) não se podem furtar a
apresentar seus argumentos. Se há interesse em investir, é de responsabilidade de todos participar da modernização das instituições, utilizando para
tanto os mecanismos do sistema democrático.
É muito cômodo para os especuladores saborearem as delícias dos juros
altos e condenarem a esclerose de instituições antiquadas. Com o referido
rebaixamento, ficou claro, mais uma
vez, que o "esporte" de criar empregos
para os brasileiros não é o forte de
quem se viciou na jogatina. O Brasil
precisa de capitais estrangeiros -e
muito-, mas que venham para a produção, e não para a especulação!
Antônio Ermírio de Moraes escreve aos domingos nesta coluna.
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