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CARLOS HEITOR CONY
Grandeza e miséria
RIO DE JANEIRO - Não tenho certeza, mas foi em 1972 ou 1973, quando o
barril do petróleo chegou a US$ 34,
provocando uma crise mundial que
por pouco não acabou numa guerra
de verdade, com os produtores árabes
pressionando politicamente os países
do Ocidente, principalmente os mais
industrializados.
Foi um deus-nos-acuda. Na Escandinávia, que não produz uma gota de
petróleo, até os reis e rainhas passaram a andar de bicicleta. O Brasil
quase deu a volta por cima, com o
programa do álcool que substituiu
temporariamente a gasolina. Mesmo
assim, os postos fechavam aos sábados e domingos e muita gente ficou
na estrada ao voltar do fim de semana.
Bem. Quer dizer, mal. O barril está
hoje acima dos US$ 50 e parece que
vai continuar subindo. Não há uma
reivindicação específica no plano político, o terrorismo institucionalizado
que se atribui a alguns países árabes
faz estragos localizados e mais dramáticos. Pode-se concluir que o mundo ficou mais rico? É possível. Há
mais gente, mais carros, mais consumo. Em compensação, há mais miséria. No caso do Brasil, naquele tempo
a nossa produção de petróleo era insignificante, atualmente estamos
chegando a um arremedo de autonomia no abastecimento.
Também não tenho certeza, mas,
no embargo do petróleo do início dos
anos 70, nossa população estava na
faixa dos 90 milhões de brasileiros.
Temos hoje quase o dobro de brasileiros e brasileiras. Ficamos mais ricos?
Em certo sentido, sim. Mesmo desprezando as taxas oficiais de crescimento, para um ignorante em economia, como eu, é fácil constatar a melhoria no padrão de vida. Independentemente dos governos que se sucederam, cavamos a vida para ter TV e
geladeira nos barracos e favelas. Celular, quase todo mundo tem. Os bolsões de miséria também aumentaram, mas não por culpa do preço do
petróleo. Culpa da concentração de
renda, que também aumentou, tornando-se, como disse um ex-presidente, obscena.
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